terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

aperto!

estou farta!
estou cansada!
estou farta e cansada!
de sentir este aperto,
esta ânsia pelo que não tenho,
ou pelo que não sinto,
ou pelo que quero!
estou farta e cansada!
de sentir esta sensação de aperto,
o estômago parece embrulhado,
nada bate certo,
sem tom certo,
sem cor,
tudo continua,
tudo acontece,
tudo gira,
mas esta inquietude não dá tréguas,
continua este dissabor,
continua esta "desavontade" de qualquer coisa,
a cara lavada,
o sorriso largo e bem disposto,
escondem a angústia,
escondem a tristeza,
de sentir o que não se deve,
das vontades que urgem voltar constantemente,
a luta indulgente que se trava,
em cada memória,
em cada pensamento,
em cada esquina,
oiço rumores,
oiço vozes contraditórias, entre o deves confrontar e o deves esquecer,
oiço a minha voz que não tem voz,
rouca pede ajuda,
todos acham ridiculo,
vejo olhares de descrédito,
vejo olhares de pena,
sinto que me sentem perdida,
sinto que estou perdida,
que fiquei tão avariada,
que todas as decisões que tomo,
não mudam o que sinto,
viro para a direita, para a esquerda,
vou pela rotunda escolho outra saída,
vejo outras paisagens,
vejo outros contornos,
mas continuo a sentir o mesmo,
não posso mais,
tenho que confessar,
parece que nunca saí do mesmo sítio,
nem terapia, nem conversa, nem tudo,
não serei mais nada a não ser o que fui,
não consigo sair daquela estrada,
fiquei retida,
não sei o caminho para voltar,
e fiquei lá sozinha,
abandonada,
tento tudo,
eu corro, eu salto, eu danço, eu grito,
mas as folhas não mexem,
o mundo gira igual,
pareço transparente
não toco em ninguém...
não vibro com ninguém...
queria ficar no meu canto,
mas não consigo,
tenho que estar em movimento,
tenho medo de parar,
pavor de pasmar,
pavor de sentir,
talvez ande a fugir,
mas a inércia atrofia-me
não consigo não fazer nada,
não consigo acalmar,
não consigo sossegar,
só me vejo como um furacão,
sem coração,
foi tudo destruido,
nada funciona,
e ando cansada,
cansada de fingir,
o tempo continua a passar,
e eu a desejar que o tempo mude,
e que o tempo cure,
sempre soube que isto ia acontecer,
sempre vi e adiei este estado,
quando adiamos não evitamos,
acontece sempre!
aconteceu!
e agora?
amanhã vai amanhecer,
eu vou acordar,
e vou trabalhar,
tudo igual!
e igual é bom!
o que não é bom, não é ser igual,
não é a rotina,
não é o padrão,
o que não é bom, é não sentir o bom!