quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Love letter #3 - Olá estranho!

Olá estranho,

Porque és desconhecido, também és estranho.
Normalmente este binómio é coincidente. Mas tal como há coincidências também existem divergências.
Encontro desconhecidos, que não estranho nada, e encontro autênticos estranhos em conhecidos.
Eu por exemplo sou um bocadinho estranha, e conheço-me relativamente bem.
Já era tempo de me conhecer melhor, mas enfim, a descoberta vai sendo gradual e às vezes até surpreendente.
Entre desconhecidos e estranhos, em conjunto ou separados, surgem rostos e personalidades associadas. Encontro-te em alguns rostos e personalidades, mas a cada momento, me desiludo. Nunca és tu na íntegra, apenas partes de ti!
Por um lado, vejo-te de uma forma tão simples, e pareces-me tão fácil existir.
Por outro lado, a cada rosto, a cada personalidade que conheço pareces ainda mais distante, cada vez existes menos nos outros.
Existem gestos, semblantes, manias, gostos, tanta coisa, e meço cada coisa no momento certo, e surge-me sempre aquela imagem da cruz vermelha, não, não é isto.
Sinto-me quase ao nível do projeto de encontrar o pé certo para o sapato da cinderela, mas aqui não é um reino, aqui é um universo, e até a cinderela teve que aparecer no baile para ser notada.
Mas tu não, és reservado, conservador e possivelmente não gostas de confusão, o que te coloca mais distante ainda de nos cruzarmos.

Tanta modernice, já quase ninguém fica perdido neste mundo se quiser encontrar o quer que seja.
No entanto, é conveniente saber o que se quer encontrar.
Talvez seja isso, tenho que definir bem o "scope" deste projeto, tenho que te conhecer bem para te encontrar, conta-me tudo.

Sei que provavelmente também estás angustiado, feliz, mas angustiado com este tema, tudo o resto é óptimo, mas ficaria melhor se nos encontrássemos, e juntos partilhássemos tudo o que temos de tão bom, e mau, e mais ou menos.

Por vezes penso que se calhar não existes, mas isso faria-me desistir de ti.
Não desisto de nada, só se desistir da vida, mas acho que a vida não desiste de mim, já pensei que sim, mas ela agarrou-me bem. Portanto tenho que lhe dar oportunidade.
No fundo, quis que eu acreditasse em mim, acreditando em mim, faz com que acredite em ti também, porque para mim a vida só faz sentido, quando envolvida com a vida de outras vidas. Não te é exclusivo esse papel, a minha família que inclui os meus filhos, está no top, os amigos idem, e o trabalho e o prazer que retiro do sentimento de utilidade, faz-me persistir no cansaço de que resulta dessa dedicação.
Sou bastante rica, tenho interesses vários, e tenho vontade e desejo de fazer coisas, e de realizar algo que faça diferença, daí sinto que tenho uma vida intensa, e bastante preenchida.
Mas...fazes-me falta!
Ainda há espaço, cada vez menos, mas ainda há espaço para ti. Anda, cá te espero.
Não te atrases muito, odeio esperar!

Ainda não te sinto perto, mas sei que estás na mesma estrada que eu, é apenas uma questão de tempo.
Entretanto, temos que ir aproveitando todas as experiências que o caminho nos coloca.
Aguardo por ti, porque sei que és tu o tal, mas estou aqui a viver aquilo que a vida me permite usufruir de melhor.
Aproveita também para te divertires e aprenderes mais, só assim estarás preparado para mim, só assim conhecendo-nos melhor, vivendo o melhor, conseguiremos encontrar-nos sem existirem dúvidas.

Com carinho,
M.a.s






quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Love letter #2 - Olá eu!

Olá eu,

Hoje escrevo-te para falar comigo, estou zangada!
Acordei, fui ao ginásio, na minha rotina, que adoro, e me dá energia, e fiquei óptima.
Mas estou zangada, cá dentro,
Não sei porquê, nem com quem.
Há qualquer coisa que me revolta, que me faz sentir um borbulhar...
Mas a verdade é que estou bem-disposta.

Parece contraditório, mas sou assim, um poço de contradições.
Estou bem, mas estou zangada, ou diria irritada com alguma coisa que desconheço.

Será alguma espécie de frustração?
Acredito que sim, todos os dias caminhamos e concretizamos coisas, e muitas outras são adiadas ou esquecidas.
A concretização dá-nos satisfação.
O adiar dá-nos frustração.
Porque não conseguimos concretizar naquele momento.
Sendo que a frustração se prende na maioria das vezes por factores que não controlamos, porque tudo o que controlamos e podemos fazer não adiamos, e portanto não frustramos.

O facto de dependermos de factores externos, frustra-nos, mas por outro lado são a cereja no topo do bolo na concretização.
Sem esse factor externo, tudo tem menos impacto, não tem a mesma adrenalina, a mesma energia, a mesma satisfação e encanto.

Foi assim, um dia, que apesar de tudo, concretizei.
Assim, talvez te permita conhecer-me um pouco mais, as minhas reflexões, nas minhas limitações, as minhas imperfeições, será tudo discutido, será tudo transparente, sem censura, sem meias verdades.
Cru e nu.

Até amanhã, para outro momento de partilha! Aquele abraço que já começa a tomar forma.
M.a.s




segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Love letter #1 - Olá Tu!

Olá tu!

Escrevo-te hoje, o primeiro de muitos dias.
A primeira de muitas páginas.
Não sei quem és, nem como vives, nem como és, nem o que sentes. Não sei nada de ti.
És como esta "folha em branco", tudo é possível e ao mesmo tempo impossível.
Podes ser tudo e podes não ser nada...
Esta carta confirma que eu acredito que existes, que existes para além da minha imaginação.
Não és principe, não és rico, não és lindo, não és perfeito.
Mas és tu, aquela pessoa que vai olhar para mim e ficar. Vais lutar por mim, vais proteger-me, vais insistir, vais aceitar, vais perdoar, vais amar para além das aparências, para além das palavras duras que vou dizer, vais estar, vais ouvir, e ler o meu coração como ninguém.
Vais perceber, que sou doce, e mole, por dentro, que tenho mil defesas activas contra impostores, e uma bagagem do tamanho do mundo, muito minha, muito dificil e muito triste.
Mas que tudo isso não me tirou o sorriso, e que adoro pessoas, e ajudar está-me no sangue, e não resisto a tentar amar.
Sei que tudo aquilo que espero de ti, é egoísta, porque não sei se consigo retribuir, e por isso talvez não me queiras, ou não aguentes esperar pela reciprocidade que é a base de uma boa relação.

Não sou romântica, esta carta nem sequer faz muito sentido.
Não sei o que é o amor sequer.
Mas tenho a ideia romântica daquilo que deveria sentir.
É suficiente para captar a tua atenção?

Fico sempre triste quando penso em ti; e devia ficar feliz; porque apesar de não te procurar, anseio encontrar-te.
Perdoa-me a adolescência da carta, que carece de maturidade, com esta idade não deveria ser leviana de nenhuma forma.
Mas esta fome de viver, coloca energia em mim, e faz-me ainda levitar para uma era cronológica que já passei. Sei bem que já não é o meu tempo, por isso quando nos encontrarmos conto contigo para me ajudar a assimilar este nosso tempo.

para já, apenas uma despedida com um agradável e esperançoso, até amanhã, ainda nos estamos a conhecer...

M.a.s




quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Carrossel

Se um dia pudesse parar,
parar de procurar,
de escavar,

em mim, nos outros,
em poucos,
ou muitos,
o que me falta a mim,
que nunca vou encontrar em outrém,
aqui ou além.

onde quer que vá
com ou sem chá
aldeão ou beto,
tarde ou cedo,

muda a flora,
muda a fauna,
muda o tempo

mas nada muda cá dentro,
a ilusão do onde,
o espaço grande ou pequeno,
perto ou longe,
bonito ou feio,
não há meio,
nada é certo

fecho os olhos,
e imagino que estou aqui,
onde estou,
sem que nada mude
são imagens aos molhos,
que ninguém se lembrou,
não gosto de ti,
aflora sem temor,
porque já não sinto mais dor,

consigo viver sem sentir
parece dificil mas é a sorrir,
não interessam sentimentos,
acabaram os lamentos.

nas veias sinto a adrenalina,
em alguns dias,
alimento-me de paixões,
de conquistas fáceis
que satisfazem o ego...

moldo o barro à minha medida
já não há ninguém para toda a vida,

quero sossego,
saem-me tolos e instáveis,

páro e penso, jamais
hoje aprendi,
amanhã já esqueci...

e o carrossel volta a tocar,
volta a correr,
e tudo volta a acontecer!
e vai ser sempre assim...



quarta-feira, 9 de outubro de 2019

mais um balanço...

Tenho andado a pensar,
A observar,
A explorar,

Porque é que me dói tanto o passado?
Porque é que sendo passado continua presente?
Porque é que carrego angústias tantas?

Sinto que fui roubada,
explorada
abusada
esventrada
E que o responsável não sofreu consequências pelo roubo e exturpo.

Tudo isto seria suficiente para odiar,
para lutar,
para raiva
para furia,
para tristeza,

mas não é isso que sinto a todo o momento,

ás vezes sinto tudo,
mas o sentimento que persiste,
é o sentimento de perda...
esse sentimento que me revolta
é o sentimento de não voltar a ter
o sentimento que me preenchia...
que me embevecia
que me fazia sentir especial
não é a pessoa em si,
é o sentimento que nutria
que me fazia sentir que tinha o que mais ninguém atingia.

se agora tenho mais,
sinto que valorizo pouco,
e tudo fica aquém,
continuo a comparar sentimentos
e continuam os lamentos...

vejo histórias de amor
sinto a frustração
de a minha se ter transformado em horror.

perdi o tempo,
perdi o momento,
sinto que fiquei sem pé,
e sem fé...
já não vou a tempo
a idade não perdoa,
e a maturidade usurpou o lugar,
à diversão desmedida.
Por vezes sinto saudades da loucura,
mas não da procura,
o tédio tomou o pódio,
a descrença convidada principal,
e o cansaço apoderou-se da taça anual.
Mas não existe ódio,
Apenas um navegar sereno,
mas não em pleno.
A vida dita as regras e contenta-se
com menos mas melhor,
e sustenta-se,
e já não espero o pior.







quarta-feira, 2 de outubro de 2019

sentidos

Vejo com os ouvidos
Sinto com o nariz
Cheiro com o coração
Saboreio com as mãos
Aprendi a andar sem pés
As palavras ocas de significado
Escrevem pautas de música
Ritmadas pelo silêncio sem eco
Corpos flácidos e cambaleantes
O chão flutua e emudece
Estremeço
Arrepio-me
Sinto!
Faz sentido!

Vadia

Que vida vadia
Que doida varrida,
Tanta alegria
Veias tão cheias
Chão tão quente
Livres de correntes
Nada nos prende
Tudo nos une
Um calor tão quente
Um odor tão presente
Desejo ardente
Virtudes e conversas atentas
Sentimentos à pele
Cócegas no nariz
Flatulências felizes
Riso solto por aqui e ali
Palavras destemidas
Passados não enterrados
Reminiscências de 1000 vidas numa vida
Bagagem pesada
E mais um beijo
Mais um riso
Mais um abraço
Mais uma história
E somos nós e cada um em si,
E somos nós
E somos nós e mil fantasmas
Partilhamos dores
Fujo e volto
Fico e sinto?

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

está tudo bem!

Está tudo bem,
Está tudo bem,
Está tudo bem,

o mundo continua a girar,
tudo vai continuar...
nada a comentar,
só não te oiço tocar,
só não existe eco no luar...

Está tudo bem,
Está tudo bem,
Está tudo bem,

Tentei,
mas não me lembrei,
do quanto me magoei,
já sosseguei...
só não evitei,
só não chorei...

Está tudo bem,
Está tudo bem,
Está tudo bem,

já vi,
já discuti,
já carpi,
já esqueci.
só não consegui,
só não senti...

Está tudo bem,
Está tudo bem,
Está tudo bem,

nada mudou,
já passou...
só não vingou,
só não ficou...

Está tudo bem,
Está tudo bem,
Está tudo bem,

tudo a nu,
um deja vu!

Está tudo bem,
Está tudo bem,
Está tudo bem,

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

com nós...

com nós nascemos,
com nós crescemos,
passamos o tempo a desfazê-los
e a fazer novos,
um emaranhado de linhas e novelos,

existe uma ponta solta
presa na volta,

sentimos o conforto do nó,
mas a confusão apodera-se de nós,
e o desafio começa,
e não há nada que o impeça.

solta-te prisioneiro,
parece que foi o primeiro,
conquista sem prémio,
pensamento boémio,
vai de retro que se faz tarde,
e a paciência é covarde.

vislumbro perda de tempo,
e cedo a um lamento.
no processo desabafo
mas não vergo ao cansaço.

não, não será eterno,
tudo termina em algum momento
nem a tempestade dura sempre
nem qualquer tormento,

Apesar de tortuoso o caminho,
nele me alinho,
com duvidas e incertezas,
mal segura e controversa,
aprendi que os olhos do amor,
fazem ver além do temor.

pensei que sabia tanto,
mas encontro duvidas em pranto,
e afinal saber é pouco,
sentir não sei,
fico louco...
e nos sentimentos não há lei.


sexta-feira, 2 de agosto de 2019

tu e eu...

chegaste de mansinho,
insististe no caminho,

tu acreditaste
eu duvidei

tu sentiste
eu não sei

tu vislumbraste,
e eu sonhei,

ensinas-me a falar,
falas com o coração
e com emoção,
eu só penso em falhar,

ouço as primeiras letras,
não são estranhas,
mas soa-me a treta,
concentro-me nas artimanhas,

cansas-te e ficas angustiado,
eu arrependida,
lês os meus olhos e não desistes,
eu transparente e comedida
abraças-me forte,
e dizes-me que é até à morte!
fico rendida,
e já não me sinto perdida!

ensinas-me a amar,
ensinas-me a confiar,
dás nome ao sentir,
ao pulsar do coração
ao sentimento e emoção,

gosto de ti
gosto de ti apesar de...

sexta-feira, 12 de julho de 2019

sem voz!

Guardo em mim a palavra,
que teima em sair da minha boca,
em bordados é lavrada,

o coração sabe-a de cor,
o milho transforma-se em pipoca,
e qualquer um em cantor,

todos a querem ouvir,
muitos receiam sentir,

toca para mim,
eu digo SIM,
qualquer dia sai com voz,
a palavra que dita o NÓS!



terça-feira, 18 de junho de 2019

ai se for desta...

ai se for desta...
ai que me doi antes de doer,
ai que acordo e é um sonho,
ai que sinto sem querer,
ai que medo de sofrer,
ai que não páro de sorrir,
ai que vontade de te beijar,
ai que não consigo dormir,
ai que não consigo acordar,

ei tu, que me acordaste,
ei eu, que me empataste,
ei vida, que me desviaste,
ei destino que me orientaste,
ei tempo que me demoraste,

oi, és a minha musica,
oi, ajudas-me a ajudar,
oi, dás um novo sentido à vida,
oi, tens a tua e a minha paciência,
oi, sorvemos cumplicidade,
oi, despertas-me o sentimento...

ui que me chegas,
ui que te encontrei,
ui que me queres tanto,
ui que desejo e encanto,
ui que te sinto meu sem o seres,
ui que desassosego tranquilo,
ui que vontade de viver em ti...

queres namorar comigo?
- hoje?

não vais responder?
- sim, vou, pergunta-me todos os dias p.f.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

carregar baterias...

Tiraram-me tudo, tudo, senti-me totalmente nua, sem proteção, sem joelheiras, sem nada, não havia barreiras para me magoarem.
Mas cá no meu íntimo pensava sempre, tudo, tudo, tudo não, tenho coisas que ninguém me pode roubar nunca....o meu sorriso, e a minha energia...

mas eis que sinto que fui assaltada pela falta de ânimo, que faço um esforço enorme para me levantar, que até pensar me custa, que ficar no meu canto parece mais acolhedor do que alguma vez aconteceu..

o sorriso vibrante deu lugar a um tédio no semblante. as pessoas que me animavam e que me faziam sentir mais forte, estão pouco interessantes, e até chatas.

Parece tudo pouco interessante, gasto, e já visto.

Nada me acrescentam.

Não me fazem rir.

Não sinto sentimentos mais fortes.

Tudo parece desiludir.

O trabalho cansa-me! mas a um nível  nunca antes registado.

Se falo dos outros, pior se olho para mim, porque escarafuncho tudo e encontro apenas aqueles problemas de sempre, vontade de prazeres imediatos, satisfação emocional escondida em doces, ou em deleites sonhadores.
A energia parece ter-se evaporado.
A palavra depressão assoma imensas vezes, mas não me identifico totalmente com o conceito, até porque infelizmente já fui brindada há muitos anos que esse horror.

Desta vez, parece-me ser maturidade, que na minha perspectiva a ser lhe chamaria maldade. Se mantermos alguma infantilidade nos traz mais energia e alegria, brindo a isso.

Se cometemos loucuras ou precipitações talvez, mas a diversão é garantida.

A vida sem diversão, sem energia, adrenalina e paixão, perde totalmente o interesse.

Neste momento a vida parece-me uma tristeza, não tem ritmo, não tem nada a acontecer, não parece fazer sentido.

Ás vezes penso que o facto de não ter alguém por quem esteja apaixonada, poderá ser o motivo deste marasmo, porém a verdade é que não não ter alguém por quem me apaixonar, é o facto de ninguém me apaixonar.
Parece que não há nada suficientemente bom para me apaixonar.
Julguei que isso nunca me iria acontecer, tinha uma facilidade incrivel de me apaixonar, conseguia ver coisas maravilhosas em todas as pessoas que conhecia. Claro que a seu tempo, tudo esmorecia, ou se incompatibilizava por uma questão de feitios, mas havia tempos de borboletas na barriga maravilhosos.

Por um lado, estou contente com este salto de certa forma qualitativo. Mas a verdade é que sinto falta de sentir.
Mesmo sendo muita ilusão inicial, vibramos, sentimos, vivemos!

Agora, fico surpreendida com a minha frieza, com a forma como sinto indiferença, e como a minha vida é gerida apenas à volta das minhas necessidades.
Sempre abdiquei tanto de mim em prol dos outros, sempre a adaptar-me e agora ainda que gira algumas coisas, a minha vontade sobrepõe-se a favores ou vontades de outrém.

Será upgrade, downgrade?
Só sei que mudei, existiu de facto uma GRANDE mudança em mim ...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Sem mãos...

Sem mãos,
Sem pés, e quase sem dentes, era assim que brincava quando me lançava pela estrada fora de bicicleta.
Uma bicicleta herdada dos meus irmãos, que herdei já sem travões, o que permitia uma adrenalina superior à época deles.
Na altura, saía de casa sem planos, ia a correr para encontrar quem andasse aí na rua para brincar. Na altura gritava pelas minhas amigas na rua, para brincar, para correr, para saltar. Haviam jogos tradicionais, saltavamos à corda, jogo do mata, brincávamos às casinhas e fazíamos autênticos lares entre rochedos.
Quando era noite ouvia chamar, e sem responder adiava ao máximo o regresso a casa, que nem o escurecer nos tirava a gana de nos mantermos por ali em brincadeiras sem fim.
Havia chatices, às vezes pancadaria, invejas, arrufos e amuos, mas no final do dia já tudo estava resolvido, ou no limite no dia seguinte pela manhã, quando na almofada reconhecíamos as infantilidades e a vontade de no dia seguinte repetir brincadeiras ou procurar novas aventuras.

Havia dias que parecia mais do mesmo, e que me entristecia por não ter barbies e brinquedos mais sofisticados, e uma bicicleta das novas com mudanças como as das minhas primas, mas no final do dia eu ia aos mesmos sítios, e brincava na mesma com bonecas.
Aprendi que o preço das coisas não lhes dá valor, nós é que atribuímos o valor às coisas.

Tantos dias, naquela bolha infantil de um mundo quase perfeito de jogos inventados, de criatividade que surgia da falta de meios, fazia-nos pensar mais, esforçar mais para combater o tédio.
Ainda que existiam muitos momentos mortos, momentos que não havia mesmo nada para fazer, momentos em que só estávamos ali, em que nos olhávamos, em que por vezes era o silêncio e o escrever na terra, ou soprar para o ar, ou deitar no chão aquilo que partilhávamos!
Mas foram tantos momentos desses que nos fizeram sentir mais cúmplices, mais próximos, mais empáticos, mais amigos. Hoje vejo tantos desses momentos, como os momentos verdadeiros, em que nada existia de interessante para nos prender ali, que não havia obrigação, apenas existia a vontade de estar ali e não noutro lugar, e não com outras pessoas, era ali...

O tempo foi passando, vamos crescendo com a crença que sabemos mais, mas parece que vamos aprendendo a desaprender, desaprendemos a ser genuínos, desaprendemos a ser inocentes, desaprendemos a acreditar, sonhar, e a ser livres.
Mas conseguimos atingir muitos objetivos da vida real, e perseguimos a vontade de conquistar o mundo, de saber tudo, de sermos fortes, capazes de mudar o que os outros não pensaram bem, e continuamos totalmente absortos na nossa vida, a nossa vida, tornou-se o centro do mundo!

A nossa vida, a nossa bolha é o foco, as pessoas existem para responderem às nossas necessidades, as outras pessoas, porque nós temos um destino a cumprir, temos que estar concentrados na nossa vida, que é a mais importante e que só se vive uma vez.
Queremos conhecer a nossa psique totalmente, fazemos terapia, queremos conhecer o mundo, viajamos, queremos conhecer o nosso corpo, fazemos check-ups intensos, queremos viver em espiritualidade, meditamos, queremos ser melhores intelectualmente e ascender a melhores cargos profissionalmente, fazemos MBAs, queremos estar em forma fisicamente, o ginásio e PT particular passou a ser um pequeno luxo, ah e as experiências, não nos podemos esquecer das experiências já valorizamos mais as experiências do que aquela pulseira ou aquele relógio, queremos sentir na pele a experiência do salto de páraquedas, daquelas aulas de teatro, daquele jogo a 3D, daquele escape room. Tudo aquilo que nos faça aproveitar mais, que nos transmita algo de novo, que nos permita absorver mais. Estar parado é que não.
Depois, no final do dia sentimos cansaço, mas um cansaço bom, de concretização, de validação, de vida!
As experiências permitem-nos sentir vivos! Porque hoje em dia as pessoas já não servem para isso!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Quase...

Talvez este quase seja mais revelador do que tudo o que possa escrever...
Talvez este blog, estas mensagens, esta leitura constante dos meus devaneios seja ainda mais óbvio o que sinto, atrás de tudo, do que tudo o que tento transmitir em mil palavras.
É tudo uma farsa, é tudo uma forma de fugir sempre à dor.
Não gosto de sofrer.
Não gosto de angústia.
E quem gosta?
Mas há quem a encare, há quem a confronte, há quem a combata.
Eu fujo, tento contornar,
Mascaro tudo em divertimento e procura incessante de outros caminhos.
Julgo-me uma espertalhaça que consegue vencer isto de forma matreira,
Que consigo manter-me ausente de sentir aquilo que não quero sentir.
Remeto para o futuro a dor, e sempre a pensar, com o tempo no futuro esta dor já será ténue,
AhAh, já a enganei! Toma lá que a mim ninguém me apanha!
Acham que me vergam, nem pensar! Eu não sou uma florzinha!

Este é o meu discurso interno, tantas vezes!

Sim, mas vergam-me facilmente
Sim, sou uma flor,

Por mais que queira fugir, é a verdade.

Se me disserem as palavras certas, sou fraca, sou fácil, sou sensível, sou HUMANA!
Se tiverem a atitude certa, sou tudo isso e ainda fiel, e leal.

Quem me conhecer verdadeiramente, ganha ouro, do puro, do genuíno,
Porque vai conseguir tudo de mim!
Porque vai ter o meu tempo,
Vai ter o meu coração,
Vai ter a minha força, a minha energia, tudo aquilo que precisar e eu tiver para oferecer!
Porque dou tudo o que tenho.
Ofusco sempre com uma imagem mais dura, que vai de encontro ao pensamento interno que me guia.
O mundo não é dos fracos e oprimidos.
E eu quero o mundo, quero vê-lo, senti-lo com todo o seu esplendor.

Quase seria o ponto mesmo antes da chegada!
Depois existe muito aquela frase bonita que não é chegar que conta mas o caminho que se fez, mas neste quase está o caminho.
Um caminho que não queria fazer, um caminho cheio de buracos, um caminho sem orientação, um caminho que se teve que construir a si mesmo.

E depois quando penso ver no horizonte o fim, por vezes o caminho é aumentado, e fico sem acesso, às vezes surgem desvios a fazer, outras vezes surgem obstáculos que implicam parar.
Mas estou mais perto!
EStá quase!