terça-feira, 31 de agosto de 2021

esgar

o esgar é o pior,
sentir sobre si o esgar,
como se fosse apenas nada,
ou apenas uma brisa,
uma gota de água,
uma aventura,
ou simplesmente uma pequena tortura,
se disser pequena retira-lhe a força
uma caixinha,
uma dorzinha,
uma vontadezinha,
e tudo se definha,
em pouco ou nada.
tudo se releva e deixa passar,
e continuamos a respirar.

mas aquele esgar de segundo,
aquele momento no ar,
em que se desviou o olhar,
foi fatal,
foi crucial,
foi brutal.

e assim, sem mais nada,
tudo mudou.
a casa de banho inundou
no ping ping da torneira,
e sem eira nem beira,
as esmolas espalhou.

quis que se deitasse para descansar,
mas não havia palha nem sarjeta.
era um caminho que o denunciou..

ah aquele esgar,
sem tecto nem cheta,
sem lábia e sem peta,
leva em si o mundo às costas,
porque não seria dedicado a notas.

corre corre, dizem-lhe alguns,
que talvez vás a tempo.
mas o esgar que se contrai
mostra um lamento.

não se trai,
o rosto de um homem,
que repuxa em vão,
e toca no coração
que lhe rebenta, que salta e pula de emoção.
não, não,
até o estômago vacila,
mas o danado do esgar não inventa
que nunca mais se intente.


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

somos todos bons e maus!

a nódoa na toalha,
o quadro torto,
a assimetria de lados,
os dentes com batom.
a pintura com borrão,
um erro no texto,
nada bate certo sempre,
nada bate errado sempre,
somos todos bons e maus!
bom,
mau,
feio,
bonito,
grande,
pequeno,
algures no meio, ou não,
encontramos partes e inteiros,
vivos e mortos,
falsos e verdadeiros.
E por caminhos tortos,
não há termos,
há sentires, há vontades,
e contrassensos,
e dificuldades.
e sem nexo,
gritamos e choramos,
cantamos e calamos,
sem dor,
e com piedade.
saudade infinda,
e humanamente,
e mentalmente,
construímos e destruímos,
para voltar tudo ao inicio.
Algures no meio, voltamos.
Com ou sem crença,
crescemos, e acreditamos
algo vai nascer,
será bom? será mau?
algo será certamente.
e com certeza muito de ambos!