quarta-feira, 25 de novembro de 2020

regresso ao passado

Poderia ser um titulo de um filme,
só que não, a versão mais parecida regressa ao futuro!

Parece de facto um filme,
feito de flashbacks do passado,
talvez mais como um sonho,
em que surge uma história sem nexo,
repleta de sentimentos e vivências aparentemente tão reais,
mas perdidas numa geografia diferente,
num tempo estranho,
e com personagens com aparências diferentes do que as pessoas que representam,
no entanto, estamos lá,
a viver naquele deserto inóspito,
e a sentir na pele tudo o que se sente na realidade pura e dura.
é tão real, que mesmo no sonho nos parece difícil acreditar,
e até no sonho tentamos beliscar-nos para acordar.

conseguimos fazer coisas dignas de super heróis,
voamos, caímos sem nos magoar,
abraçamos tigres,
fazemos desportos radicais destemidamente,
tomamos formas sexuais despudoradas em níveis pouco convencionais,
mas debaixo daquela pele,
estamos lá,

vejo-me pequenina e amedrontada,
escondida num beco,
a pedir ajuda sem voz,
está escuro,
existe um candeeiro com luz fusca ali perto,
perto o suficiente para iluminar,
longe demais para me encadear,
sinto-me protegida ali,
temporariamente.
para conseguir pensar.

mais um dia como os outros,
em que me refugio longe de mim,
porque estar perto de mim,
repudia-me, por viver anestesiada com um amor sem sentido.

vejo-me agachada, encolhida
sobre mim, numa amálgama de corpo dorido,
e coração perdido.
parece um pesadelo,
mas este é real.

sentia-me pequenina,
e ninguém me via assim.
as aparências iludem.
e ninguém me via cá dentro.
pedi socorro com os olhos tantas vezes.
e ninguém ouviu o meu silêncio ensurdecedor.
o ruido era constante,
era por demais evidente o sofrimento,
os discursos mentais constantes,
as trocas de estratégias,
as tentativas frustradas de entender o não entendível,
arrastava-me em dias longos,
que teimavam em ter tanto de mistério como de evidente,
e a mudança não acontecia,
e a esperança esvanecia.

doía tanto sentir o erro,
e voltar ao inicio do caminho depois de tanto desvio,
e pensar que tinha encontrado o fim do arco-íris.
e afinal era um pântano lamacento, 
em que me contorcia numa luta com lágrimas de crocodilo.
sabemos quem ganha essa batalha. não fui eu.

o sonho, até começou bem.
depois toma contornos estranhos e pouco familiares,
penso sempre que me quer dizer alguma coisa.
só que não.
existe a realidade,
existe a realidade que gostaríamos,
existe a realidade que vivemos,
existe a realidade em formato pesadelo,
e os sonhos são o mix disto tudo.

quando acordamos existe aquele alivio maravilhoso.
a excepção é quando o sonho significava ter ganho a lotaria,
e nesse caso é a desilusão acordar pobre!

continuo presa ali naquele beco,
incapaz de sair.
hoje em dia, ignoro-me lá.
mas tem dias que vou lá ver-me
sou masoquista,
olhar para mim naquela figura frágil, trémula e incapaz de tomar atitudes,
faz-me asco.
mas continuo a preocupar-me comigo lá!
no fundo tenho pena de mim, daquele eu.
mas não me reconheço.
e não me quero assim.
aqui o passado é um sonho presente.

domingo, 15 de novembro de 2020

"Nozes"

"Nozes" ...tu e eu!
não precisamos de preliminares para sentir,
sejam frutos salgados ou doces,
somos insaciáveis, 
nada nos sacia as conversas,
sorvemos tudo:

- o olhar um no outro,
Sinto-me dentro dos teus olhos, parece que vivo aí

- ouvimos/falamos até à exaustão,
as minhas palavras voam para dentro de ti, 
as tuas palavras ecoam em mim
 
- reconheço o teu cheiro,
entranha-se em nós e funde-se,

- provamo-nos um ao outro
o teu sabor é-me tão familiar que não o estranho e parece meu desde sempre

O tempo é sempre um grande tema,
por falta dele,
ou por excesso dele,
mas parece que por qualquer motivo agora é apenas o tempo,
entre faz sol e faz chuva,
entre ontem e hoje e amanhã,
sem questionar se a relação dura um dia, ou dois, ou três, ou quem sabe mais..
apenas que estamos a construir algo,
que sentimos algo,
que queremos fazer algo,
juntos!

Pedes-me opinião, envolves-me, queres-me contigo,
Dizes-me que me amas,
Não preciso de ti, mas quero-te! 

Desejamo-nos,
e divertimo-nos tanto,
Compreendemo-nos,
Aceitamo-nos!

Estamos a aprender a amar-nos,
conhecemo-nos a amar-nos,
pensamos a amar-nos,
sentimos a amar-nos,
e queremos amar-nos,
a nós,
e a cada um de nós.
Somos nós!