quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Love letter #3 - Olá estranho!

Olá estranho,

Porque és desconhecido, também és estranho.
Normalmente este binómio é coincidente. Mas tal como há coincidências também existem divergências.
Encontro desconhecidos, que não estranho nada, e encontro autênticos estranhos em conhecidos.
Eu por exemplo sou um bocadinho estranha, e conheço-me relativamente bem.
Já era tempo de me conhecer melhor, mas enfim, a descoberta vai sendo gradual e às vezes até surpreendente.
Entre desconhecidos e estranhos, em conjunto ou separados, surgem rostos e personalidades associadas. Encontro-te em alguns rostos e personalidades, mas a cada momento, me desiludo. Nunca és tu na íntegra, apenas partes de ti!
Por um lado, vejo-te de uma forma tão simples, e pareces-me tão fácil existir.
Por outro lado, a cada rosto, a cada personalidade que conheço pareces ainda mais distante, cada vez existes menos nos outros.
Existem gestos, semblantes, manias, gostos, tanta coisa, e meço cada coisa no momento certo, e surge-me sempre aquela imagem da cruz vermelha, não, não é isto.
Sinto-me quase ao nível do projeto de encontrar o pé certo para o sapato da cinderela, mas aqui não é um reino, aqui é um universo, e até a cinderela teve que aparecer no baile para ser notada.
Mas tu não, és reservado, conservador e possivelmente não gostas de confusão, o que te coloca mais distante ainda de nos cruzarmos.

Tanta modernice, já quase ninguém fica perdido neste mundo se quiser encontrar o quer que seja.
No entanto, é conveniente saber o que se quer encontrar.
Talvez seja isso, tenho que definir bem o "scope" deste projeto, tenho que te conhecer bem para te encontrar, conta-me tudo.

Sei que provavelmente também estás angustiado, feliz, mas angustiado com este tema, tudo o resto é óptimo, mas ficaria melhor se nos encontrássemos, e juntos partilhássemos tudo o que temos de tão bom, e mau, e mais ou menos.

Por vezes penso que se calhar não existes, mas isso faria-me desistir de ti.
Não desisto de nada, só se desistir da vida, mas acho que a vida não desiste de mim, já pensei que sim, mas ela agarrou-me bem. Portanto tenho que lhe dar oportunidade.
No fundo, quis que eu acreditasse em mim, acreditando em mim, faz com que acredite em ti também, porque para mim a vida só faz sentido, quando envolvida com a vida de outras vidas. Não te é exclusivo esse papel, a minha família que inclui os meus filhos, está no top, os amigos idem, e o trabalho e o prazer que retiro do sentimento de utilidade, faz-me persistir no cansaço de que resulta dessa dedicação.
Sou bastante rica, tenho interesses vários, e tenho vontade e desejo de fazer coisas, e de realizar algo que faça diferença, daí sinto que tenho uma vida intensa, e bastante preenchida.
Mas...fazes-me falta!
Ainda há espaço, cada vez menos, mas ainda há espaço para ti. Anda, cá te espero.
Não te atrases muito, odeio esperar!

Ainda não te sinto perto, mas sei que estás na mesma estrada que eu, é apenas uma questão de tempo.
Entretanto, temos que ir aproveitando todas as experiências que o caminho nos coloca.
Aguardo por ti, porque sei que és tu o tal, mas estou aqui a viver aquilo que a vida me permite usufruir de melhor.
Aproveita também para te divertires e aprenderes mais, só assim estarás preparado para mim, só assim conhecendo-nos melhor, vivendo o melhor, conseguiremos encontrar-nos sem existirem dúvidas.

Com carinho,
M.a.s






quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Love letter #2 - Olá eu!

Olá eu,

Hoje escrevo-te para falar comigo, estou zangada!
Acordei, fui ao ginásio, na minha rotina, que adoro, e me dá energia, e fiquei óptima.
Mas estou zangada, cá dentro,
Não sei porquê, nem com quem.
Há qualquer coisa que me revolta, que me faz sentir um borbulhar...
Mas a verdade é que estou bem-disposta.

Parece contraditório, mas sou assim, um poço de contradições.
Estou bem, mas estou zangada, ou diria irritada com alguma coisa que desconheço.

Será alguma espécie de frustração?
Acredito que sim, todos os dias caminhamos e concretizamos coisas, e muitas outras são adiadas ou esquecidas.
A concretização dá-nos satisfação.
O adiar dá-nos frustração.
Porque não conseguimos concretizar naquele momento.
Sendo que a frustração se prende na maioria das vezes por factores que não controlamos, porque tudo o que controlamos e podemos fazer não adiamos, e portanto não frustramos.

O facto de dependermos de factores externos, frustra-nos, mas por outro lado são a cereja no topo do bolo na concretização.
Sem esse factor externo, tudo tem menos impacto, não tem a mesma adrenalina, a mesma energia, a mesma satisfação e encanto.

Foi assim, um dia, que apesar de tudo, concretizei.
Assim, talvez te permita conhecer-me um pouco mais, as minhas reflexões, nas minhas limitações, as minhas imperfeições, será tudo discutido, será tudo transparente, sem censura, sem meias verdades.
Cru e nu.

Até amanhã, para outro momento de partilha! Aquele abraço que já começa a tomar forma.
M.a.s




segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Love letter #1 - Olá Tu!

Olá tu!

Escrevo-te hoje, o primeiro de muitos dias.
A primeira de muitas páginas.
Não sei quem és, nem como vives, nem como és, nem o que sentes. Não sei nada de ti.
És como esta "folha em branco", tudo é possível e ao mesmo tempo impossível.
Podes ser tudo e podes não ser nada...
Esta carta confirma que eu acredito que existes, que existes para além da minha imaginação.
Não és principe, não és rico, não és lindo, não és perfeito.
Mas és tu, aquela pessoa que vai olhar para mim e ficar. Vais lutar por mim, vais proteger-me, vais insistir, vais aceitar, vais perdoar, vais amar para além das aparências, para além das palavras duras que vou dizer, vais estar, vais ouvir, e ler o meu coração como ninguém.
Vais perceber, que sou doce, e mole, por dentro, que tenho mil defesas activas contra impostores, e uma bagagem do tamanho do mundo, muito minha, muito dificil e muito triste.
Mas que tudo isso não me tirou o sorriso, e que adoro pessoas, e ajudar está-me no sangue, e não resisto a tentar amar.
Sei que tudo aquilo que espero de ti, é egoísta, porque não sei se consigo retribuir, e por isso talvez não me queiras, ou não aguentes esperar pela reciprocidade que é a base de uma boa relação.

Não sou romântica, esta carta nem sequer faz muito sentido.
Não sei o que é o amor sequer.
Mas tenho a ideia romântica daquilo que deveria sentir.
É suficiente para captar a tua atenção?

Fico sempre triste quando penso em ti; e devia ficar feliz; porque apesar de não te procurar, anseio encontrar-te.
Perdoa-me a adolescência da carta, que carece de maturidade, com esta idade não deveria ser leviana de nenhuma forma.
Mas esta fome de viver, coloca energia em mim, e faz-me ainda levitar para uma era cronológica que já passei. Sei bem que já não é o meu tempo, por isso quando nos encontrarmos conto contigo para me ajudar a assimilar este nosso tempo.

para já, apenas uma despedida com um agradável e esperançoso, até amanhã, ainda nos estamos a conhecer...

M.a.s




quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Carrossel

Se um dia pudesse parar,
parar de procurar,
de escavar,

em mim, nos outros,
em poucos,
ou muitos,
o que me falta a mim,
que nunca vou encontrar em outrém,
aqui ou além.

onde quer que vá
com ou sem chá
aldeão ou beto,
tarde ou cedo,

muda a flora,
muda a fauna,
muda o tempo

mas nada muda cá dentro,
a ilusão do onde,
o espaço grande ou pequeno,
perto ou longe,
bonito ou feio,
não há meio,
nada é certo

fecho os olhos,
e imagino que estou aqui,
onde estou,
sem que nada mude
são imagens aos molhos,
que ninguém se lembrou,
não gosto de ti,
aflora sem temor,
porque já não sinto mais dor,

consigo viver sem sentir
parece dificil mas é a sorrir,
não interessam sentimentos,
acabaram os lamentos.

nas veias sinto a adrenalina,
em alguns dias,
alimento-me de paixões,
de conquistas fáceis
que satisfazem o ego...

moldo o barro à minha medida
já não há ninguém para toda a vida,

quero sossego,
saem-me tolos e instáveis,

páro e penso, jamais
hoje aprendi,
amanhã já esqueci...

e o carrossel volta a tocar,
volta a correr,
e tudo volta a acontecer!
e vai ser sempre assim...



quarta-feira, 9 de outubro de 2019

mais um balanço...

Tenho andado a pensar,
A observar,
A explorar,

Porque é que me dói tanto o passado?
Porque é que sendo passado continua presente?
Porque é que carrego angústias tantas?

Sinto que fui roubada,
explorada
abusada
esventrada
E que o responsável não sofreu consequências pelo roubo e exturpo.

Tudo isto seria suficiente para odiar,
para lutar,
para raiva
para furia,
para tristeza,

mas não é isso que sinto a todo o momento,

ás vezes sinto tudo,
mas o sentimento que persiste,
é o sentimento de perda...
esse sentimento que me revolta
é o sentimento de não voltar a ter
o sentimento que me preenchia...
que me embevecia
que me fazia sentir especial
não é a pessoa em si,
é o sentimento que nutria
que me fazia sentir que tinha o que mais ninguém atingia.

se agora tenho mais,
sinto que valorizo pouco,
e tudo fica aquém,
continuo a comparar sentimentos
e continuam os lamentos...

vejo histórias de amor
sinto a frustração
de a minha se ter transformado em horror.

perdi o tempo,
perdi o momento,
sinto que fiquei sem pé,
e sem fé...
já não vou a tempo
a idade não perdoa,
e a maturidade usurpou o lugar,
à diversão desmedida.
Por vezes sinto saudades da loucura,
mas não da procura,
o tédio tomou o pódio,
a descrença convidada principal,
e o cansaço apoderou-se da taça anual.
Mas não existe ódio,
Apenas um navegar sereno,
mas não em pleno.
A vida dita as regras e contenta-se
com menos mas melhor,
e sustenta-se,
e já não espero o pior.







quarta-feira, 2 de outubro de 2019

sentidos

Vejo com os ouvidos
Sinto com o nariz
Cheiro com o coração
Saboreio com as mãos
Aprendi a andar sem pés
As palavras ocas de significado
Escrevem pautas de música
Ritmadas pelo silêncio sem eco
Corpos flácidos e cambaleantes
O chão flutua e emudece
Estremeço
Arrepio-me
Sinto!
Faz sentido!

Vadia

Que vida vadia
Que doida varrida,
Tanta alegria
Veias tão cheias
Chão tão quente
Livres de correntes
Nada nos prende
Tudo nos une
Um calor tão quente
Um odor tão presente
Desejo ardente
Virtudes e conversas atentas
Sentimentos à pele
Cócegas no nariz
Flatulências felizes
Riso solto por aqui e ali
Palavras destemidas
Passados não enterrados
Reminiscências de 1000 vidas numa vida
Bagagem pesada
E mais um beijo
Mais um riso
Mais um abraço
Mais uma história
E somos nós e cada um em si,
E somos nós
E somos nós e mil fantasmas
Partilhamos dores
Fujo e volto
Fico e sinto?