sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

morre-se lentamente...

era melhor morrer depressa,
morrer lentamente é doloroso,
sentir que nunca mais se sente,
é angustiante
e dói,
sentir que não se sente é inquietante,
fui ao rubro, quando senti que não sentia,
as minhas preces foram ouvidas,
finalmente, não era refém de emoções
não dependia de ninguém,
e nada me afectava de mais,
foi uma lufada de ar fresco,
foi alívio,
foi uma sensação de liberdade fantástica,
o pior foi depois,

veio o tédio,
ofuscou-me com a perda de sentido,
nada parecia interessante,
não parecia nem era.
Tudo me incomodava ou me era indiferente,
A desmotivação aflorava,
e sentia-me vazia,
não procurei mais em mim,
não procurei nos outros,
não havia nada para procurar,
mas havia tanto para encontrar,
encontrei uma causa para lutar,
para ajudar,
o meu sentido,
deixei de me concentrar no sentir,
passei a estar focada em fazer sentir,

o sentido de vida,
voltou,
foi uma reviravolta interessante,
parece um contracenso, mas fiquei mais egoísta,
pensar menos em mim ajuda-me mais,

mas hoje, um dia a mais que ontem,
e ontem que já por si era um dia doloroso,
às vezes gostava de ter alzheimer,
para me esquecer de tantas coisas,
pareço louca quando digo isto,
dentro desta loucura, está a verdade,
não consigo que não me afecte pensar no passado,
não o desejo, não o quero,
até já lhe encontro tantos defeitos,
em que no doentio que tinha, já nem equilibrio vejo entre os extremos do bom e mau,
já começa a cair do pedestal,
a idealização que demarquei naquilo que foi uma ilusão,
já se começa a evidenciar,
só tenho que aceitar.
No outro dia, no curso que estou a fazer,
lia e relia tantos testemunhos,
cujas palavras poderiam ser minhas,
e pensava como é que vivi a acreditar que as minhas eram diferentes,
como é que pensamos que somos especiais,
ainda fiquei mais enraivecida comigo,
como me deixei enganar?
como não travei?
porque não disse, basta?
porque não disse, não?
quem fui eu?
quem sou eu?
o que isso faz de mim?
não me condenou, mas não me sinto orgulhosa de mim,
sinto que fui fraca,
que me deixei ludibriar,
talvez seja isto que não me deixa esquecer,
que não me deixa ultrapassar,
esta dor de ter que aceitar,
que sou fraca,
que sou burra,
que sou parva,
e estupida,
talvez esteja na hora de o dizer,
de enfrentar essa verdade,
de me confrontar a mim,
de me aceitar a mim,
de parar de fingir que sou forte,
que sou capaz de tudo,
que sou esperta,
que consigo fazer tudo.

e agora?
Agora que estou a assumir tudo,
em que ponto fico?
estou curada?

não, a lágrima continua a cair,
o bloqueio parece continuar a existir,
e sinto sempre que não tem fim.

Já tentei tudo,
já tentei o improvável,
o além,
o aquém,
o Deus,
o diabo,
a cigana,
o budha,
curandeiros,
mágicos,
terapêuticas,
profissionais sérios,
menos sérios,
espirituais,
mas nada resultou,
continua ferida aberta,
continuo a sentir-me sem chão,
sempre que me revejo,
abre-se uma tempestade sempre que sinto,
e uma cascata salta dos meus olhos descontrolada,
se sem saber porquê,
apenas que é incontrolável.

E se me conhecem,
sabem que odeio não controlar.
fico muito irritada,
quando não consigo definir uma estratégia,
para uma solução.

Mas este meu ponto hoje,
é tão profundo,
que dói bastante,
doi-me mais por doer,
será que conseguem entender?
quão mais louca consigo ser?

Como arrancar do peito isto,
já me debato com isto,
há tanto tempo,
parece um cancro
mas essa doença que corrói,
acaba por matar,
este meu dilacera sem matar,
alimenta-se da dor, para viver.
Corroi-me a alma,
as relações,
a vida.
Morro lentamente...
preferia que fosse depressa.

respiro? check
ando? check
falo? check
choro? check
rir muito? check

tenho tudo, sou feliz,








quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

não me apetece...

Não me apetece,
Ontem apeteceu-me hoje não me apetece,
somos todos bipolares e inconsistentes?
ou apenas humanos com vontades?
Quere-me parecer que há humanidade em quem oscila,
em quem sente,
em quem se contradiz,
em quem quer muito ou pouco,
em quem ri e chora...
Mas com intensidade,
porque ousar sentir,
ousar arriscar,
pagar para ver, custa,
não pelo fracasso...
mas pela perda da esperança,
pela perda da vontade,
da alma, do encanto!
Permite o cansaço,
e desperta o desinteresse,
e a sensação de repetição de uma espécie de padrão.
Como saber se nos apetece?
Questiono muitas vezes os apeteceres,
às vezes parece que me apetece fazer algo,
mas na verdade não,
mas faço na mesma,
porquê?
porque gosto de me contrariar,
porque gosto de tentar outra forma,
porque penso que sou limitada até nas vontades,
porque hei-de ficar sempre pela a aposta segura?
porque não sair da zona de conforto?
quero ir ali,
fazer aquilo,
sentir mais,
ver muito,
ouvir mais,
falar menos,
e rir sempre muito,
e é com isso tudo que vivo!

sinto-me tão cheia,
a vida jorra em mim,
porque me sinto rica de mim,
dos outros,
e de vontades.

sim, a frustração também existe,
a consciência que nem tudo tem sucesso,
nem tudo o que faço se revela mágico,
ou concretizável,
há dores que nos aconchegam à noite,
mas que nos dão luta,
que nos fazem acordar no dia seguinte com mais alguma resolução.
Todos os dias, a minha check list aumenta e as prioridades são redefinidas e algumas adiadas,

de coração cheio sempre que sinto calor humano em sintonia comigo,
sempre que sinto que quem eu gosto está feliz.

Hoje almocei com um GRANDE amigo,
é grande em todos os aspectos,
e choro em quase todos os nossos almoços,
porque falamos a mesma língua,
porque tocamos a alma um do outro,
somos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes,
temos um gap de tempo, ele entende...
mas hoje, falávamos do amor,
e ele estava triste por mim, por sentir que eu nunca o tinha sentido,
porque por sorte tem-me ajudado a perceber umas quantas coisas nesta minha imaturidade,
com quantas pessoas conseguimos falar assim?

enfim, mas eu consegui hoje definir-lhe o que penso que será o amor,
algo que nos permite sentir genuínamente a felicidade do outro,
uma pele que não é a nossa,
uma vida paralela,
longe e perto por um fio (outrora, agora é antenas e o camandro), ele também sabe...
percebe dessas cenas electrónicas e tal!
tantas memórias que partilhamos,
tanta "patience" que me cantou...
tantos anos de trocas de informação,
de gostar sentido,
de reforço positivo e mais que isso,
de estar sempre quando preciso dele.
Ele sente...e vem sempre em meu socorro, sou tão sortuda!!
Como não chorar, com tanta felicidade?
Ele dizia-me que não me quer fazer mal.
como poderia fazer-me mal, se sinto o seu amor por mim,
se sinto que me quer.
que sou importante e especial para ele.
Não são todas as pessoas que nos tocam,
São poucas.
São raras.
Dizia-lhe que me revolta termos um mundo só nosso.
Que não o quero só para mim.
que o quero partilhar com os outros amores da minha vida.
que não faz sentido ser apenas meu,
mas ele não é como eu,
ele não precisa de espalhar as emoções,
ele conserva-as no coração,
só para ele,
tenho que aceitar que não as vive da mesma forma,
não precisa de me ter para me ter,
que a vida que escolheu hoje,
é a que quer para ele,
escolhas!
também as fiz um dia,
e como tal hoje vivo o que resultou delas,
nada volta atrás!
mas é meu e dele este mesmo sentimento,
temo-nos! e gosto tanto disso!
cumplicidade tão boa!
o abraço apertado que se sente cá fora.
a vida apertada que escolhemos,
o olhar que nos prende na vida um do outro.
Prometo, apenas a ti! Nunca mais vou fugir...