domingo, 24 de julho de 2022

dentro de outras cabeças

Parece tudo mais simples, mais fácil, e sem importância, relevante, ou outros adjectivos que carregam intensidade em cada vogal, nos outros, naqueles que não são "eu", naquelas que não trazem a minha bagagem, a carga genética, os segredos e tudo o que nos transtorna, magoa e confunde.

Sim, temos certezas, depois deixamos de ter certezas e passamos a ser instáveis.

Depois de instáveis passamos a ser confusos e incoerentes.

Talvez mais tarde, com um rasgo de lucidez, voltamos a racionalizar e a fingir entender 10% dos nossos pensamentos, medos, ansiedades e desconhecimento de nós próprios.

Parece um labirinto, e por vezes surpreendo-me quando vomito palavras atrás de palavras que parecem fazer sentido, e percebo que provoco até alguma admiração de outros pares pela sua estruturação. Fugaz mas capaz. E assim, sinto sempre que vou enganando meio mundo, entre um racionalismo e uma capacidade de entreter com comportamento de acordo com as normas da sociedade e rasgos de lucidez contidos que me premeiam um lugar ao "sol".

Por vezes, ponho-me a pensar, como serão as outras cabeças, arrumadinhas, por prateleiras, em fila indiana, bem classificadas e catalogadas, será que estão numeradas, e padronizadas com cores. E foram identificados critérios de organização que rapidamente se encaminham nos raciocínios e conseguem debitar informação sem esforço? por vezes imagino que nas outras cabeças pode existir muita coisa, mas não há confusão, não há labirinto, e que podem até ter limitações de aprendizagem, ou algumas incapacidades de expressão, mas está tudo arrumadinho, e que mesmo nos absurdos que lhes saem das bocas adveio de um canal puro, e bem definido com um fluxo bem definido de ideias.

Na minha cabeça, é um burburinho constante, é uma azáfama de ideias e de pensamentos, que me fazem pensar que o diagnóstico de déficit de atenção também me deveria estar atribuído, resvalo num comboio de ideias que começam por ser idiotas na sua maioria mas se as outras cabeças ajudarem normalmente compõe-se em algo por vezes interessante. 

Algumas perdem-se no caminho, não consigo dar atenção a todas, mas tento!

Parece a passerelle das beldades, mas todas em competição por destaque, no desfile muitas vezes alegre e bem ruidoso, consigo por vezes abstrair-me para sentir e explorar melhor uma dessas ideias, e são as sortudas que saltam cá para fora em catadupa, algumas outras ideias tentam aproveitar-se e saltam com estas, dão tudo para serem vistas, e no salto suicida por vezes algo é aproveitado. 

Não morreram em vão, como na moda por vezes nada se aproveita a não ser a cor, mas a cor fica e pode ser o tom do verão.

Desejo viajar para outras cabeças, descansar, serenar, talvez umas férias, toda a vida talvez não, continuo a entediar-me com facilidade. 

Também a curiosidade é provocadora, perceber até que ponto são as diferenças, de que tamanho são, de que volume, onde e quando se revelam, e em que tempo se vive ali. 

Não sendo confuso, será que também provocam confusão, será que lhes acontece pontualmente.

Será que não existindo confusão, há espaço para a diversão? para a capacidade de se inventar, inovar constantemente?

A confusão não é algo positivo, porque estarei a tentar passar a ideia que pode ser algo bom? que pode ajudar a promover todo um conjunto de coisas que não existem sem confusão, mas não é verdade, quanta criatividade há em mentes puras, quanta inovação em mentes estruturadas e organizadas.

portanto, nada é melhor por ser pior.

A minha tentativa de enganar a minha própria cabeça é surreal, constantando a sua ineficácia ainda a tento brindar com elogios falsos.