terça-feira, 21 de dezembro de 2021

sombras

outrora achava que eras incomparável,
outrora sentia algo inexplicável,
outrora pensava em ti como inigualável,
construi em mim uma imagem de ti inalcançável.

e como tudo o que não é terreno,
não é verdadeiro.
e na tua pele de cordeiro,
vivi com um lobo feroz e medonho.
senti nas entranhas a tua fúria,
revestido de promessas e emoções simuladas.
parecia que o meu corpo e mente estava possuído por uma droga forte 
que me prendia e fazia suportar perder-me a mim,
desisti de lutar,
tu estavas acima de mim,
todas as tentativas me convenciam do meu fracasso
e em cada o dia me mostravas a minha fraqueza.
Destrui-me por ti,
se fosse amor isto seria uma vergonha.

o sexo intenso e despudorado,
alimentava o vicio,
e apesar de ser mais aclamado do que prazeroso,
foi também idealizado,
recordo-me da primeira vez que te despiste,
foi uma desilusão tão grande,
tentei disfarçar.
Pensei, parecia demasiado bom para ser verdade,
e apesar da tua inconsciência,
mas que verbalizavas insegurança,
fiz o meu papel, 
ajudei-te a ter confiança
essa é a base, ainda que tenhamos pouco para mostrar.
Achei que teria que viver para sempre com pouco,
mas tudo o resto poderia compensar,
na verdade, foi ao contrário,
o pouco ficou melhor,
e tudo o resto veio a piorar.
O que é surpreendente é que nos convencemos de coisas,
coisas más,
que são coisas boas,
que queremos e aceitamos,
quando não queremos e não aceitamos.
Mas vivemos,
e em desconforto,
e em esforço,
vamos acreditando na mentira,
naquilo que gostaríamos de ter,
de querer,
de sentir,
chega a tal ponto a crença,
que nos confundimos, o ideal passa a ser o real, 
e o real o ideal,
e vibramos com a ilusão.
Num universo paralelo,
na caverna de platão.
as sombras tomam forma
e escolhemos o ângulo certo, para temos a nossa visão.
a visão que nos fere menos
a visão que nos mantém o sonho,
e assim continuamos ali,
a definhar e a acreditar,
que as sombras são a realidade.
e não entendemos como os outros não veem.
estão todos errados!
são todos limitados!
até que um dia, a luz acende-se
encadeia-me o olhar.
e com a habituação,
todas as sombras desapareceram.
e percebemos que vivemos uma actuação!

 





quarta-feira, 13 de outubro de 2021

prometido é de vidro

o prometido não é devido,
o prometido é de vidro,
encanto sem sentido
palavras vãs,
segredadas no divã,
cabeças na almofada,
cumplicidade efémera,
noites não dormidas.
promessas eternas,
pessoas modernas.

manhãs de alvorada,
frescas e sãs,
quem és tu? quem sou eu?
até já, ou até depois.
banho da vergonha,
memória apagada,
quem nunca?
que atire a primeira pedra.
no meio da latência,
o choque da realidade,
surge a imagem da cegonha.
rezas,
e promessas,
nunca mais esta ocorrência.

tudo apagado,
tudo lavado,
tudo desaparece,
em nada enobrece.

prometeram-me
juraram-me
choraram-me
cantaram-me

e de repente sem mais,
nem menos,
tudo morreu,
tudo esqueceu,
tudo se desvaneceu.



e enganaram-me
joelharam
prometeu,
e desprometeu,
sem remorso,
sem tensão,
sem expressão,
era assim,
uma ilusão,
com abnegação,
e sem noção.
era assim,
uma idealização,
sem precedentes,
nem antecedentes.







domingo, 19 de setembro de 2021

Coração partido

dias, noites e mais dias sem fio,
velas a arder sem pavio.
em cada passo vacilo.
horas, minutos e segundos,
vagarosos e lamacentos.

sorriso presente.
expressões desmentem,
e olhar consente.

acordada por dentro,
desperta na aurora,
firme na bravura,
nada atura.
desliga a ficha,
amanhã não demora.

febre ausente,
corpo dormente,
entre caminhos ardentes,
passeia em torpor,
desvios planeados.
tristes e cansados.

espasmos de prazer,
musica alta,
corpos contorcidos,
suores adormecidos.
curtos e doces,
tantos poucos.

mil pedaços,
não se juntam,
não existe cola,
nem escola,
nem regaços,
que curam.
à solta,
sem volta.
sem tento,
nem alento...
pula e salta,
com a musica alta.
e tenta,
e rebenta.
E chegou ao fim.
já não existe.
nada persiste,

voltou a bombear,
o sangue a correr,
e finalmente,
sente!














sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Nim

e quando te deparas com um nim?
nem não nem sim,
mas sem mim, e sem ti.

nós cegos,
ou apenas egos,
meandros de nada,
um pouco de tudo.

sem furor,
não há fulgor,
sem amor,
não há temor,
sem cansaços,
não há abraços.
nem um beijo,
nos torna para sempre,
nem sem eles,
se demora em mim.
senti por dentro e por fora,
quase uma osmose perfeita,
realidade escondida,
e preterida.
sem pejo,
e com a aurora.
interregno de tempo,
preso no ozono,
sem dono.

debates contínuos,
e inglórios,
sem vitórias,
mas com histórias.
mil vidas em vão,
estonteante,
vibrante,
impossíveis destinos,
irresistível tentação.

quando a mente nos mente,
e sente,
para além da gente.
viaja-se sem horas,
sem tempos,
sem trajectos
e sente-se com ardor
e era o salto sem rede,
bloqueei na parede.

e ouvi morno,
mas quis quente,
mas quente e frio é médio,
e não quero fogo,
nem quero gelo,
quero o que está no meio,
e sem algo feio.

e agora?
fica tudo igual.
Como se nada fosse,
e entretanto fica aqui,
a memória de dias sem horas,
de alegria pura.
Mas como tudo, nada dura.
Mas não tem mal,
não há posse,
não há demoras,
porque estamos Cem tempo,
A Par,
e sem esquecer Oh meu Deus.









terça-feira, 31 de agosto de 2021

esgar

o esgar é o pior,
sentir sobre si o esgar,
como se fosse apenas nada,
ou apenas uma brisa,
uma gota de água,
uma aventura,
ou simplesmente uma pequena tortura,
se disser pequena retira-lhe a força
uma caixinha,
uma dorzinha,
uma vontadezinha,
e tudo se definha,
em pouco ou nada.
tudo se releva e deixa passar,
e continuamos a respirar.

mas aquele esgar de segundo,
aquele momento no ar,
em que se desviou o olhar,
foi fatal,
foi crucial,
foi brutal.

e assim, sem mais nada,
tudo mudou.
a casa de banho inundou
no ping ping da torneira,
e sem eira nem beira,
as esmolas espalhou.

quis que se deitasse para descansar,
mas não havia palha nem sarjeta.
era um caminho que o denunciou..

ah aquele esgar,
sem tecto nem cheta,
sem lábia e sem peta,
leva em si o mundo às costas,
porque não seria dedicado a notas.

corre corre, dizem-lhe alguns,
que talvez vás a tempo.
mas o esgar que se contrai
mostra um lamento.

não se trai,
o rosto de um homem,
que repuxa em vão,
e toca no coração
que lhe rebenta, que salta e pula de emoção.
não, não,
até o estômago vacila,
mas o danado do esgar não inventa
que nunca mais se intente.


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

somos todos bons e maus!

a nódoa na toalha,
o quadro torto,
a assimetria de lados,
os dentes com batom.
a pintura com borrão,
um erro no texto,
nada bate certo sempre,
nada bate errado sempre,
somos todos bons e maus!
bom,
mau,
feio,
bonito,
grande,
pequeno,
algures no meio, ou não,
encontramos partes e inteiros,
vivos e mortos,
falsos e verdadeiros.
E por caminhos tortos,
não há termos,
há sentires, há vontades,
e contrassensos,
e dificuldades.
e sem nexo,
gritamos e choramos,
cantamos e calamos,
sem dor,
e com piedade.
saudade infinda,
e humanamente,
e mentalmente,
construímos e destruímos,
para voltar tudo ao inicio.
Algures no meio, voltamos.
Com ou sem crença,
crescemos, e acreditamos
algo vai nascer,
será bom? será mau?
algo será certamente.
e com certeza muito de ambos!


sexta-feira, 18 de junho de 2021

não tens tudo...

não tens tudo,
não tens tudo, e não faz mal,
não faz mal que não sejas perfeito,
não tens que ter tudo para seres o tal!

não tens nada,
não tens nada que me faça mal,
não faz mal que sejas imperfeito,
não tens nada que impeça de seres o tal!

não tens demais,
não tens demais, nem de menos,
não faz mal seres normal,
não tens como não ser o tal!

não tens, és!

eu sou, tu és, nós somos,

na imperfeição,
sentimos no corpo a excitação,
na imperfeição,
deleitamo-nos na transpiração,
na imperfeição,
vivemos na ilusão,
na imperfeição,
tentamos sentir até à exaustão
na imperfeição,
palpita o coração,
na imperfeição,
vamos ao limite da reflexão,
na imperfeição,
nunca chegamos a uma conclusão,
na imperfeição,
vivo sem perdão,
na imperfeição,
o passado já não tem permissão,
na imperfeição,
pensamos em comunhão,
na imperfeição,
fazemos parte da mesma equação,
na imperfeição,
queremos partilhar um só chão.

sem perfeição,
mas com cumplicidade, e compreensão,
só quero sentir, a minha mão na tua mão!
só te quero a ti ao meu lado,
só quero que o nosso tempo seja o certo,
que a impaciência se esmague,
que a adrenalina se equilibre,
que a vontade não esmoreça,
que o futuro nos fortaleça,
que os sonhos de cada um fomente os nossos.

sábado, 15 de maio de 2021

inquieta

e volta sempre aquela inquietude,
sempre a mesma amplitude,
sempre a mesma sensação.

um turbilhão na cabeça
um desassossego no coração
e no estômago uma contração,

quero fugir,
não quero sentir,
e tudo se parece esvair...

será que encontrei a mesma estrada,
será que por voltas que dê,
vou sempre parar ao mesmo lugar?
Será que me lê,
Será que estou numa encruzilhada,
talvez não haja nada para encontrar...

porque me submeto sempre a tentar,
continuo a lamentar,
continuo a acreditar,
porque não me libertar?
  • desistir
  • partir
  • deixar de querer
preciso de decidir,
parar de resistir
à tentação
de querer sempre mais,
quando já tenho tudo.

a angustia aflora
tudo me devora,
esventra-me por dentro,
catadupa de pensamentos
a agonizar um fim.

sem tecto,
sem chão,
será sempre assim o culminar.
já deveria saber de antemão.





segunda-feira, 26 de abril de 2021

Love letter #4 - Olá nós!

 Olá como estão?

é assim que falamos quando nos dirigimos a um casal.
- O que fizeram no fim-de semana?
- Passaram bem estes dias?
- Têm dormido bem?
- Gostavam de vir cá jantar?

Sempre no plural, sempre um nós!

e assim, também nós falamos na 3ª pessoa,
- estamos bem,
- fomos à praia,
- dormimos bem, 
- sim gostaríamos muito de ir aí jantar!

por vezes acham-nos um só.

mas não somos, 
somos 3 em 2,
porque somos cada um em si, e 2 em nós,
e eu falo por mim quando te digo que estou bem contigo!
e acredito quando me dizes que é comigo que gostas de estar!

e é na vontade de fazer juntos,
o que poderíamos fazer separados, 
sem obrigação,
sem prisão,
sem tensão,
sem imposição,
sem castração.

que a liberdade nos prende para sempre,

nos teus olhos vejo o meu farol,
no meu sorriso ouves o mar,
e sem correr nem saltar,
vemos juntos, o nascer do sol!







quinta-feira, 15 de abril de 2021

ai quem me dera

ai quem me dera sentir sem dor,
olhar para o futuro sem temor,

agarrar-me às asas do condor,
esvoaçar pelos céus,
aterrar nas terras ardidas,
sem garantias,
sem pesos,
sem medidas.

tempos sem horas,
espaço sem vista,
e os bolsos cheios de nada.

apenas com,

olhos que veem o que não se vê,
mãos que sentem o que não se toca,
lábios que provam o que não tem sabor,
ouvidos que ouvem o que não se diz...

mente que lê o que não se escreve,
coração que não bombeia sangue de verdade,

pés que assentam na terra desconhecida,

e é assim,

entre a verdade e mentira,
entre o que se diz e o que se delira,
entre o que se pensa,
e o que se dita,
que vive a dor da incerteza...






segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

nasceu torto

sim, não há remédios que curem o que nasce torto,
hoje estou em modo de sofrimento,
em que o coração chora,
o ego demora,
tudo chora menos os olhos,
o veneno da dor, custa a sair,
fui mordida por uma cobra venenosa.
o antídoto parece demorar,
ou tem que fazer efeito,
a impaciência fá-lo-á abortar!
mais não digo, que me faz implorar.
nem sei que dor é esta, pois não quero voltar,
mas a angústia de sentir,
a mágoa de me iludir,
faz-me vergastar o coração dentro do peito. 
rei morto,
sem grande lamento.
vergasto-me a mim, sem piedade,
e sou eu a vilã da minha caridade.
aceito que as palavras de outrem tomem o meu castelo,
e aceito-as como verdadeiras, sem questionar...
porquê acreditar?
em quem eu encontrei tanta inconsistência,
tanta mediocridade,
e tanta incapacidade de se entender a si,
como confiar em quem tece palavras vãs?
e sou eu que me condeno?
que triste que sou, que a validação de outros importa mais,
que me imponho tanta exigência,
e retiro do meu ser tudo o que tenho de bom,
para olhar para tudo o que tenho de mau,
oh triste sina minha,
que não aprendo com a experiência,
a loucura insana,
de crer nela como mundana,
levantar é o que se avizinha...
até lá o remoinho que me assola,
tal furacão que leva tudo à frente,
e deixa ficar os resquícios de um presente envenenado,
que se tornou pesadelo!






terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

coisas que precisamos de dizer

tem dias que preferia não ter passado,
um passado que me marcou e que me deixa sempre sem medir muito os sentimentos,
de repente sinto que não quero aquilo porque revivo sensações,
que foram provocadas num determinado contexto e enquadramento,
afligem-me, provocam-me urticária,
e começo logo em defesa,
como se me estivessem a atacar novamente, quero fugir daquilo que me faz mal.
porque surgem os semáforos intermitentes a alertarem-me,
e eu penso sempre, agora estou atenta, não posso ignorar os sinais,
eu já vivi isso, não vou repetir novamente a experiência para comprovar que estava certa.
E eis-me a vislumbrar discursos, e argumentos tortuosos na minha própria cabeça,
comigo própria a ser o alvo...
portanto hoje, já fiz tantos diálogos internos de descontentamento, de desconforto,
que até já os classifiquei,
o 1º como a desconcertante surpresa,
o 2º como a perceção e reconhecimento de terreno antigo,
o 3º com o repúdio e revolta,
o 4º com a luta e combate contra isso,
o 5º com a perceção que não é uma guerra, já não vivo guerras, e não as posso travar,
que é no amor que devemos insistir e não em guerras,
mas cá dentro vive-se uma luta,
entre a defesa de mim, e a procura de um nós seguro,
estamos em fases diferentes e neste capitulo parece-me nítido,
parece que ainda estás preso a um cordão umbilical de conforto com o passado,
e eu fujo de cordões umbilicais,
eu liberto-me de todas as amarras que me façam sentir presa,
e tu continuas preso a rotinas que te equilibram,
e ninguém está errado,
apenas são fases diferentes,
já lá estive,
e tu estás lá,
vivo um dilema, 
porque não quero castrar-te no teu conforto e equilíbrio,
mas provoca-me a mim desconforto,
temos que crescer juntos,
e temos dores de crescimento,
terei eu alguns temas que preciso da tua ajuda neste processo,
falo demais,
não dou espaço,
e por vezes acho que ambos nos esquecemos que somos 2 numa relação.