quarta-feira, 25 de novembro de 2020

regresso ao passado

Poderia ser um titulo de um filme,
só que não, a versão mais parecida regressa ao futuro!

Parece de facto um filme,
feito de flashbacks do passado,
talvez mais como um sonho,
em que surge uma história sem nexo,
repleta de sentimentos e vivências aparentemente tão reais,
mas perdidas numa geografia diferente,
num tempo estranho,
e com personagens com aparências diferentes do que as pessoas que representam,
no entanto, estamos lá,
a viver naquele deserto inóspito,
e a sentir na pele tudo o que se sente na realidade pura e dura.
é tão real, que mesmo no sonho nos parece difícil acreditar,
e até no sonho tentamos beliscar-nos para acordar.

conseguimos fazer coisas dignas de super heróis,
voamos, caímos sem nos magoar,
abraçamos tigres,
fazemos desportos radicais destemidamente,
tomamos formas sexuais despudoradas em níveis pouco convencionais,
mas debaixo daquela pele,
estamos lá,

vejo-me pequenina e amedrontada,
escondida num beco,
a pedir ajuda sem voz,
está escuro,
existe um candeeiro com luz fusca ali perto,
perto o suficiente para iluminar,
longe demais para me encadear,
sinto-me protegida ali,
temporariamente.
para conseguir pensar.

mais um dia como os outros,
em que me refugio longe de mim,
porque estar perto de mim,
repudia-me, por viver anestesiada com um amor sem sentido.

vejo-me agachada, encolhida
sobre mim, numa amálgama de corpo dorido,
e coração perdido.
parece um pesadelo,
mas este é real.

sentia-me pequenina,
e ninguém me via assim.
as aparências iludem.
e ninguém me via cá dentro.
pedi socorro com os olhos tantas vezes.
e ninguém ouviu o meu silêncio ensurdecedor.
o ruido era constante,
era por demais evidente o sofrimento,
os discursos mentais constantes,
as trocas de estratégias,
as tentativas frustradas de entender o não entendível,
arrastava-me em dias longos,
que teimavam em ter tanto de mistério como de evidente,
e a mudança não acontecia,
e a esperança esvanecia.

doía tanto sentir o erro,
e voltar ao inicio do caminho depois de tanto desvio,
e pensar que tinha encontrado o fim do arco-íris.
e afinal era um pântano lamacento, 
em que me contorcia numa luta com lágrimas de crocodilo.
sabemos quem ganha essa batalha. não fui eu.

o sonho, até começou bem.
depois toma contornos estranhos e pouco familiares,
penso sempre que me quer dizer alguma coisa.
só que não.
existe a realidade,
existe a realidade que gostaríamos,
existe a realidade que vivemos,
existe a realidade em formato pesadelo,
e os sonhos são o mix disto tudo.

quando acordamos existe aquele alivio maravilhoso.
a excepção é quando o sonho significava ter ganho a lotaria,
e nesse caso é a desilusão acordar pobre!

continuo presa ali naquele beco,
incapaz de sair.
hoje em dia, ignoro-me lá.
mas tem dias que vou lá ver-me
sou masoquista,
olhar para mim naquela figura frágil, trémula e incapaz de tomar atitudes,
faz-me asco.
mas continuo a preocupar-me comigo lá!
no fundo tenho pena de mim, daquele eu.
mas não me reconheço.
e não me quero assim.
aqui o passado é um sonho presente.

domingo, 15 de novembro de 2020

"Nozes"

"Nozes" ...tu e eu!
não precisamos de preliminares para sentir,
sejam frutos salgados ou doces,
somos insaciáveis, 
nada nos sacia as conversas,
sorvemos tudo:

- o olhar um no outro,
Sinto-me dentro dos teus olhos, parece que vivo aí

- ouvimos/falamos até à exaustão,
as minhas palavras voam para dentro de ti, 
as tuas palavras ecoam em mim
 
- reconheço o teu cheiro,
entranha-se em nós e funde-se,

- provamo-nos um ao outro
o teu sabor é-me tão familiar que não o estranho e parece meu desde sempre

O tempo é sempre um grande tema,
por falta dele,
ou por excesso dele,
mas parece que por qualquer motivo agora é apenas o tempo,
entre faz sol e faz chuva,
entre ontem e hoje e amanhã,
sem questionar se a relação dura um dia, ou dois, ou três, ou quem sabe mais..
apenas que estamos a construir algo,
que sentimos algo,
que queremos fazer algo,
juntos!

Pedes-me opinião, envolves-me, queres-me contigo,
Dizes-me que me amas,
Não preciso de ti, mas quero-te! 

Desejamo-nos,
e divertimo-nos tanto,
Compreendemo-nos,
Aceitamo-nos!

Estamos a aprender a amar-nos,
conhecemo-nos a amar-nos,
pensamos a amar-nos,
sentimos a amar-nos,
e queremos amar-nos,
a nós,
e a cada um de nós.
Somos nós!







segunda-feira, 19 de outubro de 2020

para ti Ri!

para ti,
não sou eu és tu!
estavas ali perto do piano,
o primeiro olhar,
a primeira reação,
parecias meio acelerado, ou seria nervoso, não sei dizer,
mas tinhas um ar bem disposto,
não sei bem como mas a conversa rodopiou sem apalpar terreno,
sem silêncios perturbadores,
e foi tão intensa e fluída,
que o teu convite para jantar logo a seguir,
parecia fazer todo o sentido,
mas não...a realidade não permitiu.
Ficou adiado,
mas a tua voz e o nosso riso em uníssono ficou infiltrado em mim,
parecia um reencontro feliz,
entre almas gémeas,
que se entendiam sem se conhecerem,
tudo o que dizias parecia não ser estranho,
nem precisava de adaptações ou uma espécie de tradução.
e eis que me olhavas nos olhos como a querer ler-me,
e eis que me disseste logo ali: não sei o que pensas mas eu quero algo sério, eu quero uma relação contigo,
fiquei engasgada, mas a acreditar que só podias falar a sério,
era genuíno,
mas como era possível num primeiro encontro,
numa primeira conversa,
num primeiro tudo,
fazer tanto sentido,
não te conheço, não me conheces,
mas sentimos, certo?
e eu não conseguia fugir do teu olhar inquisidor,
a pedir uma resposta,
e eu incrédula, e a sentir o palpitar de um coração demasiado tenso e com pavor do que sentia.
Foi adiada a resposta, mas tu ouviste-a, quando aceitei a conversa seguinte,
e a seguinte e o encontro seguinte,
a vontade estava latente,
e o primeiro beijo nervoso surgiu,
parecia também fazer sentido,
não evitei, não fugi...
estava nervosa, ri ri muito,
ninguém quer beijar alguém a rir que nem uma doida,
mas já me conheces, rio com o nervosismo,
e tu estavas um pouco tenso,
mas deste-me abraços, para me teres junto a ti,
para me sentires e me protegeres,
para tentares colmatar a minha rigidez,
amoleceste-me com a tua entrega,
senti que me querias,
e o beijo foi quente,
foi tímido mas intenso,
porque não eram só as nossas bocas que se uniam,
eram as almas ali também.
Voltei ao riso,
e tu libertaste-me para eu me poder aproximar mais,
é sempre assim, quando somos livres queremos sempre estar junto de quem nos liberta,
tu estavas feliz, senti-te feliz,
as conversas fluíam como se não houvesse tempo suficiente para dizermos tudo,
atropelávamo-nos por vezes com a vontade de contar tudo,
porque o tempo é relativo,
e temos tanto a dizer um ao outro,
será que chega todo o tempo do mundo?
para sempre é muito tempo, mas não para nós.
quantos milhares de palavras, ideias e milhões de coisas temos para fazer?
a ideia que o tempo demora tempo,
que sempre me assolou em momentos difíceis,
agora parece que o tempo demora pouco tempo quando conversamos.
é mesmo relativo!
quis o tempo que tivéssemos um fim-de-semana nosso,
que nos brindámos com toda a intensidade que nos caracteriza.
não nos cansámos de nós,
mas estoirámos todos os cartuxos de cansaço,
foi louco sim,
foi exploratório,
quiseste raptar-me, fizeste planos,
hesitaste nos planos,
mas puxei-te para o trilho,
contratempos surgiram,
bebidas e comida,
superámos os obstáculos e a viagem foi a parte melhor!
tivemos o posterior contacto com a realidade e eis que é dura,
mas todos os dias nos sentimos,
todos os dias nos sintonizamos e sentimos para além da voz.
A tua convicção é o meu barómetro,
acreditas e verbalizas, e não pareces duvidar,
e não cedes ao meu constante descrédito ou incapacidade de acreditar num sentir apenas,
firme e hirto, não abdicas daquilo que vislumbras para nós!
dás-me confiança! 
eu sempre a balançar e tu a lutar por nós!
tu debitas palavras sem temor e eu simplesmente agradeço,
consegues sempre que o nosso sentido de humor seja mais forte e que supere a dura realidade,
sempre acreditei que rir cura todos os males,
e eis que encontrei quem corrobora comigo,
vamos continuar a rir juntos!
essa é a melhor viagem!
és lutador, és divertido,
és cativante, és sentimental,
és um bom pai, és corajoso,
és intenso, és capaz,
és nervoso (aquele nervosismo das injustiças, pseudo-irritadiço),
és crente,
és sonhador,
és trabalhador,
és ...
to be continued








domingo, 18 de outubro de 2020

Atenção! Atenção dupla!

atenção é a palavra de ordem!
não é atenção vs cuidado com as obras aí ao fundo!
termos atenção de alguém that's the point,
o sentimento de que alguém está focado em nós,
que somos especiais para alguém,
que prendemos a atenção de alguém,
que quer estar por perto,
que gosta de nós.

Tantos egos aqui!
precisamos sempre de sentir reconhecimento,
atitudes de dedicação,
porquê?
psicologia barata diz-nos que provavelmente tivemos lacunas de atenção na infância,
somos tão inteligentes que até assumimos isso,
poderia ter sido melhor distribuida pelos irmãos,
ou porventura carecemos todos disso,
a culpa é dos pais!
uau, já arranjamos um culpado para a cena, aliás 2, ainda melhor!!!

mas a verdade é que como se ouve o cliché, reconhecer um problema é o primeiro passo para a cura...
fuck! a parte de verdade nisto é aniquilada pela parte errada disto,
sabemos do problema ainda ficamos mais irritados, porque afinal não sou perfeita!
e depois, ok, não sou perfeita, e agora o que é que faço?
espera, posso deprimir-me aqui a achar que nunca mais sou ninguém de jeito,
o que poderá ser um cenário real, e que ainda me deprime mais.
Depois pondero pesquisar a sério, sobre o tema,
wait a moment, existe muita gente com este problema,
fico mais deprimida, pessoal com vidas tramadas, com aspecto ainda pior, e com histórias que só me apetece cortar os pulsos.
depois penso, alguém conseguiu encontrar uma solução?
após anos de terapia, e de muitos livros de auto-ajuda,
apercebo-me de pessoas que foram por caminhos estranhos, espirituais, coachings, yogas, cenas de constelações, álcool, drogas e sei lá mais o quê. Resultado uma cambada de gente iludida com felicidades sem eco e conteúdo....
questiono-me, mas tens que fazer qualquer coisa, não?
vais ser assim defeituosa para sempre, ainda por cima tu é que sofres com isso,
fazes aquele papel de needed, ou de naif, ou de parva porque achas que te entusiasmas que nem uma louca quando aparece alguém que te trata como se fosses única, e tão especial que acreditas que aquela pessoa até agora não viveu como deve ser. 
A partir de agora que te conheceu é que vai ser a vida AM e DM (antes e depois de Margarida), tão coolll!
Vibras que nem um vibrador com pilhas novas, só te apetece ser rebelde, a adrenalina é completamente viciante, e não queres que termine nuncaaaaaa. 
Apercebeste-te entretanto que basicamente vibras com a ilusão que estás a criar de um monstro como tu que ambiciona viver na ponta da navalha com a sofregão da intensidade que proporciona esta ilusão, que tudo é possível que alimento o meu alter ego pelo qual me estou a apaixonar loucamente.
Se me retirar a mim da equação, o outro é apenas uma figura que tem que existir para fazer fit com o que desejo ter. 
Entusiasmo-me tanto que não quero que aquilo acabe nunca,  não dormimos, fico out de tudo, porque quero usufruir ao máximo, acho que no meu íntimo desconfio que a realidade está longe de mim.
Entretanto não quero saber, sou rebelde e tal.
E vou consumir tudo até à exaustão.
Depois vem o choque da realidade.

Helllo vidaaa!! 
Há cenas para fazer, nomeadamente, filhos, compromissos, trabalho, a nossa vida suspensa.
Estava mesmo ali à nossa espera naquela esquina, com um sorriso jocoso a aguardar o nosso despertar.
E eis que ele acontece.
Às tantas em catadupa, @home na rotina da vida, pergunto-me, WTF que foi isto?
espera qual a parte real e qual a parte de ilusão.
a minha mente está-me a enganar ou eu vivo fora de mim?
sou dupla de mim,
sou tão intensa, que me preciso de duplicar,
e depois canso-me de mim,
e quero apenas desligar a corrente!
passaram cerca de 5 segundos, e eis que surge o tédio,
o meu arqui-inimigo numero 1, odeio-o,
dá-me tédio,
que coisa horrível para se oferecer a alguém,
dá-se tédio, ninguém aceita esse presente, não?
mas oiço dizer que faz bem ter tédio,
existem até epifanias acerca do tédio,
o ócio também já ouvi falar, outro monstro que me faz urticária,
Por vezes questiono-me porque os odeio,
porque me causam tanto desconforto,
será que os tenho em mim, e isso é que me deixa constrangida?
tudo aquilo que me provoca tanta irritação será por também coexistir em mim?
Continuo com esta dificuldade em não questionar tudo.
Porquê, porquê?
Vou voltar à infância, deve ser porque fiquei insatisfeita com a ausência de resposta a tantas questão na idade dos porquês.
Estou a concluir que me deveria pagar a mim própria as consultas de psicólogo, faço "all the job".
Cruzes, não se aguenta!
Sim, está cá tudo, até a solução!
Mas...
existe sempre um mas...
Continuo na mesma, preciso de atenção, é um facto.
Esmoreço sem atenção, como uma planta sem água.
E ninguém normal me consegue dar um nível satisfatório de atenção, e muitas outras exigências que tenho para a minha satisfação, de forma consistente, regular e para sempre!
Logo, the conclusion is, a minha vida será sempre um carrossel de emoções!
Também poderia perguntar, e tu? Dás essa full atention?
E a verdade é que dou, quando estou, estou! Quando quero, quero!
Quando sinto, sinto!
O meu problema é sempre o retorno, a forma em que volta,
a capacidade em que se reveste,
a intensidade que demonstra,
a veracidade, maturidade, e eternidade!! Menos que isso é pouco!
Se me canso também? Sim canso, e se por vezes sinto que é "2much" sim sinto,
e que um intervalo era provavelmente bom,
mas não admito, não assumo e não permito!
Tenho que ser capaz de aguentar com tudo, só assim sei que existe um futuro viável.
Depois de ler isto tudo, fico mesmo com a ideia que acredito em contos de fadas.
E eis-me a travar o entusiasmo, porque já sei que o entusiasmo é diferente de gostar,
e gostar é diferente de paixão, e longe ainda do amor!
A luta continua, e pergunto-me se deva entrar no carrossel?
Mas quando pergunto, normalmente é tarde demais, porque adoro festa, adoro diversão, adoro rir, adoro viver, e a diversão da vida perde a piada se não alinharmos. 
Alguém já viu um carrossel com travões! Não teria piada nenhuma!
Atenção! Atenção!
A próxima viagem está a decorrer, e eu já paguei o bilhete!
Paguei para ver, para viver, para usufruir, eventualmente posso cair, mas a vantagem da experiência é que já não será a 1ª vez, a queda dói mas não o suficiente para não nos levantarmos, e tentar novamente montar aquele cavalo destemido e imóvel!
Gosto especialmente de escolher os assentos duplos em que podemos usufruir em conjunto! 
Há coisa melhor do que partilhar uma viagem em conjunto com alegria e cumplicidade? Vens?











domingo, 13 de setembro de 2020

refém

sempre pensei que fui presa,
fácil ou não,
mas presa.
não vitima, 
fui apanhada numa teia,
como um animal ingénuo,
mas uma teia que não era tecida pela mesma linha,
depois de vários atropelos,
de vários enganos,
de me acomodar até,
deu-se a rebelião, e consegui cair achincalhada da teia,
andei aos tropeções
perdida num labirinto,
com regras e sinais confusos,
quando encontrei um caminho seguro,
não me satisfez, quero sempre mais,
sentia que ainda não era ali,
voltei à estrada,
continuo sem o código de estrada atual,
os sinais e regras continuam a parecer estranhos e confusos,
não sei se sou eu que interpreto mal ou se estão na sua maioria errados,
e a questão é mesmo essa,
questiono demais,
e fico prostrada com tanta questão,
e se..., e se,...
e pior, ai se estou no caminho daquela teia novamente?
também posso decidir ir por outro caminho,
o mais seguro, em que sou eu que defino o código.
não quero ser apenas um sinal de desvio,
e sinais proibidos não fazem match comigo,
se achar que sou eu que sou errada, vou questionar-me a mim,
vou ser dura comigo, e vou ressentir-me comigo,
e pior vou duvidar de mim,
e no final, vou sobrepor outros a mim,
retirando-me o papel principal.
E eu sou quem desempenha o meu papel principal, porque a vida é minha!
Sempre minha, brindada por outros e usufruída exclusivamente por mim.
o orgulho é necessário, faz-nos lutar por nós,
para defender os nossos interesses,
não o podemos ignorar quando nos alerta para os perigos,
a curva é sempre contornável,
mas um penhasco é sempre um penhasco.
quando me sinto perder voz.
quando me forçam a perder energia,
morro devagarinho,
não consigo não defender o que acredito,
o que é justo.
e a aceitação é a maior prova de amor,
quem não superar essa prova, não é digno e não ama.


prisioneira de mim

a liberdade é castradora,
digo-o impiedosamente,
nada na liberdade nos liberta,
aprisiona-nos o sentimento de ser livres,
quando somos livres, somos obrigados a fazer escolhas,
a decidir,
a viver segundo a nossa vontade,
a responsabilidade é nossa,
a iniciativa ou a não iniciativa depende de nós,
temos que garantir coerência,
temos que ter estabilidade,
temos que provar capacidade,
temos que manter níveis de sanidade,
temos que controlar várias dimensões da vida em sociedade,
temos que lavar a cara,
temos que sair de casa,
cumprir regras,
sustentarmo-nos,
avaliar e sermos avaliados.

que raio de liberdade é esta?

a liberdade de pensar essa é livre,
mesmo que estejamos numa prisão de nível máximo,
a liberdade de poder dizer aquilo que ninguém ousa dizer...já não a temos,
a liberdade de expressão é uma falsa ilusão,

porque teimamos em querer ser livres,
a liberdade de pessoas é o que se pretende,
mas essa é utópica,
ser livre de deveres, mas manter direitos,
ser livre de dizer,
de fazer,
de não fazer,
de querer e não querer,

as liberdades invisíveis,
as liberdades comandadas sem ordens,
as liberdades confinadas em cada um,
as liberdades mudas



coisas que se sentem

existe aquele sentimento que não se explica,
que se sente,
que ninguém parece ajudar,
e que se tentam, são alvos fáceis de todo um fel,
ninguém tem culpa,
e só queremos que o tempo passe,
nada resulta,
porque se trata essencialmente de encaixar,
aceitar que temos dias que acontecem coisas más,
ou diria menos boas,
ou que se acumulam insatisfações,
que guardamos há algum tempo,
num sitio recatado e obscuro,
e que tentamos muito ignorar que existe,
talvez seja minha a culpa,
aspiro a ser ou ter aquilo que não sou capaz,
ganhei poder,
perdi poder,
suei para conseguir,
pensei que iria subsistir,
tudo o que se ganha, se pode perder,
tudo o que se perde, se pode ganhar,
a ilusão do que temos,
da posição que ocupamos,
de sermos considerados com valor,
mas o valor está em nós.
e sempre que o procuramos nos outros não o temos.




validade

nascemos com validade.
quando será que estamos fora de prazo?
que temos validade é um facto,
que cumprimos o prazo saudável, é que já não sei.
porque é que existe quem saiba que chegou o seu tempo limite?
ou que já viveu mil vidas,
há quem pareça junior na vida quando já a idade vai avançada,
e há quem desde cedo sinta que o caminho já vai longo,
almas velhas,
almas infantis,
temos tantos conceitos para apelidar e tornar tudo mais compreensível,
mas a verdade é que não compreendemos,
nem sequer sabemos o que é a vida,
qual o sentido,
porque surgiu,
as pessoas, os animais, a flora e fauna.
toda a estrutura que se formou,
e nos torna seres tão complexos por um lado e tão básicos por outro,
as capacidades reduzidas intelectuais,
vemos todos de forma diferente,
mas vemos tudo igual,
interpretamos, processamos, educamos
sentimos todos, mas até sentimos de forma diferente coisas iguais.

terça-feira, 3 de março de 2020

carcaça da vida!

Constatei aos poucos,
pequenos pedaços de mim,
empapados no chão,
dilacerada,
esventrada,
é assim que me vejo,

no chão, sangrento,
a esvair-me em sangue,
mas em paz,
serena.
completamente estropiada,
sem folgo,
um respirar ténue,
uma amálgama de cores,
um espectáculo dificil de encarar
tirando o meu rosto, com semblante tranquilo,
sem dor,
quem observe até pode verificar um ligeiro traço de felicidade,
tranquilidade,
de olhos cerrados,
com brilho a rasgar o cenário,
sem filtros,
está tudo ali,
a luz prevalece,
aclara o que se pode querer esconder,
tudo é visivel,
desde as entranhas,
ao tremor dos lábios,
não há sofrimento perceptível,
tudo está calmo,
a natureza com o seu ciclo,
e eu ali, a fazer parte da natureza,
numa primavera eminente,
as flores florescem,
os animais movem-se lentamente sobre mim, curiosos,
não se atrevem a espezinhar-me,
existe um certo respeito pelo cenário dantesco,
calculo que têm planos para mim,
não sei se sabem que ainda sou eu ali,
mas a minha inação permite-lhes planear com tempo,
penso que me querem para muitas funções.
é sempre importante sermos úteis,
seja em que cenário for...
concentro-me na brisa,
não é desagradável,
atenua qualquer pensamento menos bom,
e permite-me sentir liberdade,
depois começo a pensar se sinto falta do meu corpo,
ele precisaria de terapia, maltratei-o muito,
quando lhe dizia quão horrível era,
que tinha peso a mais,
que os contornos não eram os que gostaria,
que os outros eram melhores que ele! odeio-te!
queria trocar por outros,
dei-o a troco de nadas,
e a troco de tudos,
não o valorizei, não o mimei,
sempre o dei como dado adquirido,
simplesmente alojava nele as minhas tensões,
frustrações e lampejos de excessos.
a vê-lo ali dilacerado,
quis-lhe agradecer a sua resistência,
que bravo que foi!
seriam poucos a suportar-me, firmes!
dentro de todas as suas imperfeições, conseguiu ser imune a todo o negativismo,
às intempéries do tempo,
e ainda de quando em vez fazer virar cabeças masculinas,
afinal, foste um bom corpo!
Lá está só agora o reconhecimento,
quando não resististe.

continuo aqui!
apesar de tudo,
acredito que vou ficar mesmo para semente,
esse será o meu fim,
porque não sou de vergar,
e não quero respirar em vão.

a sensação é que não devo resistir mais,
posso desistir,
posso deixar cair,
já não preciso de lutar, por tudo e por nada,
por coisa nenhuma,
posso descansar,
sem culpas,
sem stress,
e apenas ficar ali sem ter que sentir algo,
sentir nada,
pensar nada,
viver nada,
dizer nada,
apenas estar,
apenas ser,
sentir vazio,
entendiar-me,
esvaziar-me,
largar-me,
des-panicar-me,
desenraizar-me,
voltar ao pó,
e sentir a terra em mim,
e crescer de novo,
sem cor,
sem voz,
sem vida.

semente sem genes,
grão sem odor,
raiz solta,
ao vento,
ao sol,
à chuva.
e sem corpo,
invisivel,
incolor,
indolor,
inconstante,
invertebrada,
insensível,

as letras teimam em continuar a surgir,
a levantar-se temas,
a insurgir-se e a provar vida,
o conteúdo deixou de ser interessante,
não importa o quê,
os pensamentos atropelam a vida,
e a morte,
não são permeáveis a palavras, nem a convicções,
não vergam à natureza, nem à constatação das evidências,
nem a tristeza,
nem a riqueza,
nem  a alegria,
a única coisa que me verga o pensamento,
é algo penoso,
que não se condói com um corpo desfeito,
com uma alma ausente,
com feridas de 3º grau,
nem os abutres me atrapalham,
é na indiferença que culmina a minha inquietação,
é sentir que não causei impacto,
que não signifiquei nada,
que não toquei nada,
que não fui nada,
que fui desprezada,
que fui ignorada,
que fui desconsiderada,
como se um nada fosse,
como se pudesse ser esquecida,
com marcas inesquecíveis em mim,

provo do meu veneno,
que descarto de mim o que não me traz novidade.
como se nada tivesse sido,
o que foi tão importante em outros momentos,
e de repente eis que não é nada,
ficam memórias efémeras,
de factos,
ficam memórias de sentimentos,
que não consigo replicar no sentir,
nem acreditar,
parece que foi somente uma ilusão,
que na altura me fez vibrar,
mas que não gerou raiz,

um papel que atribuo com facilidade,
mas que acho inadmissível para mim,
não o consinto,
não o aceito,
não, não, posso ter sido descartável,
não posso ter sido usada,
não posso ter sofrido em vão,
tamanha humilhação, não!
Corpo! Mente! Vida insana!
Não creio!
Não consinto!
Não aceito!
Não posso ter sido, alguém que foi ludibriada, manipulada e descartada!
Não posso! Mas fui!
Mas não consigo ainda aceitar!
não me consigo enlutar,
que me devorem os animais,
que me gritem,
que me persigam,
não posso aceitar que acreditei tanto numa mentira,
vivi uma mentira?
como aceitar que senti uma mentira?












sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

morre-se lentamente...

era melhor morrer depressa,
morrer lentamente é doloroso,
sentir que nunca mais se sente,
é angustiante
e dói,
sentir que não se sente é inquietante,
fui ao rubro, quando senti que não sentia,
as minhas preces foram ouvidas,
finalmente, não era refém de emoções
não dependia de ninguém,
e nada me afectava de mais,
foi uma lufada de ar fresco,
foi alívio,
foi uma sensação de liberdade fantástica,
o pior foi depois,

veio o tédio,
ofuscou-me com a perda de sentido,
nada parecia interessante,
não parecia nem era.
Tudo me incomodava ou me era indiferente,
A desmotivação aflorava,
e sentia-me vazia,
não procurei mais em mim,
não procurei nos outros,
não havia nada para procurar,
mas havia tanto para encontrar,
encontrei uma causa para lutar,
para ajudar,
o meu sentido,
deixei de me concentrar no sentir,
passei a estar focada em fazer sentir,

o sentido de vida,
voltou,
foi uma reviravolta interessante,
parece um contracenso, mas fiquei mais egoísta,
pensar menos em mim ajuda-me mais,

mas hoje, um dia a mais que ontem,
e ontem que já por si era um dia doloroso,
às vezes gostava de ter alzheimer,
para me esquecer de tantas coisas,
pareço louca quando digo isto,
dentro desta loucura, está a verdade,
não consigo que não me afecte pensar no passado,
não o desejo, não o quero,
até já lhe encontro tantos defeitos,
em que no doentio que tinha, já nem equilibrio vejo entre os extremos do bom e mau,
já começa a cair do pedestal,
a idealização que demarquei naquilo que foi uma ilusão,
já se começa a evidenciar,
só tenho que aceitar.
No outro dia, no curso que estou a fazer,
lia e relia tantos testemunhos,
cujas palavras poderiam ser minhas,
e pensava como é que vivi a acreditar que as minhas eram diferentes,
como é que pensamos que somos especiais,
ainda fiquei mais enraivecida comigo,
como me deixei enganar?
como não travei?
porque não disse, basta?
porque não disse, não?
quem fui eu?
quem sou eu?
o que isso faz de mim?
não me condenou, mas não me sinto orgulhosa de mim,
sinto que fui fraca,
que me deixei ludibriar,
talvez seja isto que não me deixa esquecer,
que não me deixa ultrapassar,
esta dor de ter que aceitar,
que sou fraca,
que sou burra,
que sou parva,
e estupida,
talvez esteja na hora de o dizer,
de enfrentar essa verdade,
de me confrontar a mim,
de me aceitar a mim,
de parar de fingir que sou forte,
que sou capaz de tudo,
que sou esperta,
que consigo fazer tudo.

e agora?
Agora que estou a assumir tudo,
em que ponto fico?
estou curada?

não, a lágrima continua a cair,
o bloqueio parece continuar a existir,
e sinto sempre que não tem fim.

Já tentei tudo,
já tentei o improvável,
o além,
o aquém,
o Deus,
o diabo,
a cigana,
o budha,
curandeiros,
mágicos,
terapêuticas,
profissionais sérios,
menos sérios,
espirituais,
mas nada resultou,
continua ferida aberta,
continuo a sentir-me sem chão,
sempre que me revejo,
abre-se uma tempestade sempre que sinto,
e uma cascata salta dos meus olhos descontrolada,
se sem saber porquê,
apenas que é incontrolável.

E se me conhecem,
sabem que odeio não controlar.
fico muito irritada,
quando não consigo definir uma estratégia,
para uma solução.

Mas este meu ponto hoje,
é tão profundo,
que dói bastante,
doi-me mais por doer,
será que conseguem entender?
quão mais louca consigo ser?

Como arrancar do peito isto,
já me debato com isto,
há tanto tempo,
parece um cancro
mas essa doença que corrói,
acaba por matar,
este meu dilacera sem matar,
alimenta-se da dor, para viver.
Corroi-me a alma,
as relações,
a vida.
Morro lentamente...
preferia que fosse depressa.

respiro? check
ando? check
falo? check
choro? check
rir muito? check

tenho tudo, sou feliz,








quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

não me apetece...

Não me apetece,
Ontem apeteceu-me hoje não me apetece,
somos todos bipolares e inconsistentes?
ou apenas humanos com vontades?
Quere-me parecer que há humanidade em quem oscila,
em quem sente,
em quem se contradiz,
em quem quer muito ou pouco,
em quem ri e chora...
Mas com intensidade,
porque ousar sentir,
ousar arriscar,
pagar para ver, custa,
não pelo fracasso...
mas pela perda da esperança,
pela perda da vontade,
da alma, do encanto!
Permite o cansaço,
e desperta o desinteresse,
e a sensação de repetição de uma espécie de padrão.
Como saber se nos apetece?
Questiono muitas vezes os apeteceres,
às vezes parece que me apetece fazer algo,
mas na verdade não,
mas faço na mesma,
porquê?
porque gosto de me contrariar,
porque gosto de tentar outra forma,
porque penso que sou limitada até nas vontades,
porque hei-de ficar sempre pela a aposta segura?
porque não sair da zona de conforto?
quero ir ali,
fazer aquilo,
sentir mais,
ver muito,
ouvir mais,
falar menos,
e rir sempre muito,
e é com isso tudo que vivo!

sinto-me tão cheia,
a vida jorra em mim,
porque me sinto rica de mim,
dos outros,
e de vontades.

sim, a frustração também existe,
a consciência que nem tudo tem sucesso,
nem tudo o que faço se revela mágico,
ou concretizável,
há dores que nos aconchegam à noite,
mas que nos dão luta,
que nos fazem acordar no dia seguinte com mais alguma resolução.
Todos os dias, a minha check list aumenta e as prioridades são redefinidas e algumas adiadas,

de coração cheio sempre que sinto calor humano em sintonia comigo,
sempre que sinto que quem eu gosto está feliz.

Hoje almocei com um GRANDE amigo,
é grande em todos os aspectos,
e choro em quase todos os nossos almoços,
porque falamos a mesma língua,
porque tocamos a alma um do outro,
somos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes,
temos um gap de tempo, ele entende...
mas hoje, falávamos do amor,
e ele estava triste por mim, por sentir que eu nunca o tinha sentido,
porque por sorte tem-me ajudado a perceber umas quantas coisas nesta minha imaturidade,
com quantas pessoas conseguimos falar assim?

enfim, mas eu consegui hoje definir-lhe o que penso que será o amor,
algo que nos permite sentir genuínamente a felicidade do outro,
uma pele que não é a nossa,
uma vida paralela,
longe e perto por um fio (outrora, agora é antenas e o camandro), ele também sabe...
percebe dessas cenas electrónicas e tal!
tantas memórias que partilhamos,
tanta "patience" que me cantou...
tantos anos de trocas de informação,
de gostar sentido,
de reforço positivo e mais que isso,
de estar sempre quando preciso dele.
Ele sente...e vem sempre em meu socorro, sou tão sortuda!!
Como não chorar, com tanta felicidade?
Ele dizia-me que não me quer fazer mal.
como poderia fazer-me mal, se sinto o seu amor por mim,
se sinto que me quer.
que sou importante e especial para ele.
Não são todas as pessoas que nos tocam,
São poucas.
São raras.
Dizia-lhe que me revolta termos um mundo só nosso.
Que não o quero só para mim.
que o quero partilhar com os outros amores da minha vida.
que não faz sentido ser apenas meu,
mas ele não é como eu,
ele não precisa de espalhar as emoções,
ele conserva-as no coração,
só para ele,
tenho que aceitar que não as vive da mesma forma,
não precisa de me ter para me ter,
que a vida que escolheu hoje,
é a que quer para ele,
escolhas!
também as fiz um dia,
e como tal hoje vivo o que resultou delas,
nada volta atrás!
mas é meu e dele este mesmo sentimento,
temo-nos! e gosto tanto disso!
cumplicidade tão boa!
o abraço apertado que se sente cá fora.
a vida apertada que escolhemos,
o olhar que nos prende na vida um do outro.
Prometo, apenas a ti! Nunca mais vou fugir...




quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

nada aborrecida!

Quando desistimos de querer a perfeição,
quando aceitamos,
o certo ou o errado,
o torto ou direito,
o preto ou branco,
o triste ou contente,
o bonito ou o feio,
quem somos, quem são os outros, e o que queremos,
o alívio surge,
parece tudo mais fácil,
a pressão diminui,
e vivemos apenas com aquilo que temos verdadeiramente,
com o que sentimos,
com o que temos vontade de fazer

quando a vida é aquilo que nós sentimos,
quando a vida é vivida para nós,
quando a vida é o caminho que nós escolhemos,
quando a vida é fruto da nossa vontade,
quando a vida espelha a nossa alegria,
quando a vida é a oportunidade diária de ser melhor!

Diria que esta vida não é nada aborrecida!!